Bênção sacerdotal ou apostólica?


Ainda que os contextos históricos dessas duas bênçãos sejam diferentes, tanto a sacerdotal como a apostólica se aplicam ao culto neotestamentário, já que ambas são trinitárias, isto é, mencionam as três Pessoas da Trindade, o que lhes confere um status atemporal. Entretanto, a Igreja estabelecida pelo Senhor Jesus, no primeiro século (Mt 16.18), não é ritualista nem sacramental. Em outras palavras, embora o cristianismo bíblico observe duas ordenanças — o batismo em água (Mt 28.19,20) e a Ceia do Senhor (1 Co 11.23-34) —, as denominações têm liberdade no campo das questões eclesiásticas, como a administração do culto.

Grosso modo, cada igreja tem um perfil, que abarca os âmbitos bíblico-teológico e eclesiástico-litúrgico. No primeiro, há doutrinas, princípios e mandamentos, os quais devem ser obedecidos, já que são imutáveis. No segundo, hierarquia, cerimônias, práticas litúrgicas etc., todas administradas pela Bíblia, mas com certa flexibilidade. Títulos ministeriais, por exemplo, variam nas denominações e nem sempre correspondem aos dons prescritos na Bíblia (Ef 4.11; 1 Co 12.28). A bênção impetrada no fim dos cultos se relaciona com a esfera eclesiástico-litúrgica; não é regida por mandamento, e sim por uma tradição derivada de 2 Coríntios 13.13, passagem que deve ter sido escolhida, em algum momento da História da Igreja, em razão de dar destaque à triunidade de Deus.

Não se sabe se, de fato, as igrejas do primeiro século impetravam alguma bênção no fim dos cultos. O certo é que Paulo e outros autores neotestamentários concluíam suas cartas com uma saudação de bênção alusiva à graça de Deus (cf. Rm 16.24; 1 Co 16.23; Hb 13.25; 1 Pe 5.10). Ao que tudo indica, foram os reformadores que começaram a usar versículos bíblicos no fim dos cultos, e 2 Coríntios 13.13 foi o escolhido por causa da menção às três Pessoas da Trindade, o que também ocorre — mas de modo indireto — na bênção sacerdotal, visto que se repete o nome do SENHOR três vezes (Nm 6.24-26).

Como a impetração dessa bênção não se impõe por mandamento, e sim por tradição, faz-se necessário distinguir o teológico do litúrgico. Em 1 Coríntios 14.26, Paulo faz menção de três tipos de ministração: a do louvor (salmo), a da Palavra (doutrina) e a do Espírito (revelação, língua e interpretação). Se faltar uma destas ou se houver mau uso delas, o culto estará, bíblica e teologicamente, prejudicado. Mas há também avisos, recolhimento de dízimos e ofertas, oração pelos aniversariantes, bênção apostólica etc., elementos que podem ser administrados com sabedoria, equilíbrio e flexibilidade.

Portanto, pode-se, no fim dos cultos, não só usar 2 Coríntios 13.13 e Números 6.24-26, alternadamente, como também outros textos; ou, ainda, empregar palavras adicionais. Há igrejas em que o pastor diz: “A vitória é nossa!”, e o povo responde: “Pelo sangue de Jesus!” Outras apresentam as bênçãos apostólica ou sacerdotal de forma cantada. Entretanto, vale lembrar que as Assembleias de Deus preferem a chamada bênção apostólica, pois, além de esta constar do Novo Testamento, nela a Trindade é mencionada de modo explícito.

Ciro Sanches Zibordi
Artigo publicado no Mensageiro da Paz número 1.590 (novembro de 2017)

Comentários

Thiago Souza disse…
Texto Muito,interessante,Professor Ciro.
Anônimo disse…
Texto muito,interessante Professor,Ciro.
Julião disse…
Amém. Postagem muito boa. Era uma duvida que já tinha faz tempo pois é costume no final dos cultos, mas não havia nenhuma ordem nos escritos neo-testamentários.
Pastor, o senhor poderia recomendar a bibliografia que o senhor estudou?

Jesus vos abençoe!