por Ciro Sanches Zibordi *
Artigo publicado na revista Obreiro Aprovado (CPAD), ano 36, número 67
Características do pregador itinerante, sua vida e pregação com ênfase na vida do apóstolo Paulo
Paulo foi um pregador itinerante muito diferente de qualquer um que já andou na terra. As cartas que ele escreveu à igreja de Corinto, especialmente — as de maior cunho pessoal —, revelam como era a sua vida diária e o seu procedimento como pregador e apóstolo. Mas, na sua pregação aos presbíteros (anciãos) de Éfeso, em Mileto, no retorno de sua terceira viagem missionária, identificamos algumas marcas de um verdadeiro pregador do Evangelho na vida de Paulo, as quais foram enumeradas pelo próprio apóstolo (At 20.18-19).
Servo de Jesus Cristo e humilde
Chama a atenção, em Atos dos Apóstolos e nas epístolas paulinas, o frequente emprego do termo “Senhor Jesus Cristo”, o qual é usado pelo apóstolo Paulo por mais de setenta vezes. Esse título, de modo sintético, revela que Jesus é o Senhor (Lc 2.11), o Salvador — pois este o significado do nome Jesus (Mt 1.21) — e o Cristo, o ungido de Deus (Lc 4.18). Em outras palavras, esse título contempla três tipos de relacionamento de Jesus: o Dele para com o Pai, como o Cristo; o Dele para conosco, como o Salvador; e o nosso relacionamento para com Ele, como servos, haja vista ser Ele o Senhor.
Na pregação aos presbíteros de Éfeso, Paulo asseverou que, durante o tempo em que esteve na província da Ásia, testificou “tanto aos judeus como aos gregos, a conversão a Deus, e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20.21). Ele quis dizer que não pregava um Evangelho incompleto, parcial, dizendo que Jesus era apenas o Salvador, por exemplo. Ele fazia questão de enfatizar que Jesus é o Senhor, o Salvador e o Cristo! Nos dias atuais, poucos são os pregadores que falam do Senhor Jesus Cristo. Muitos sequer enfatizam que Jesus é o Salvador, visto que só pregam sobre prosperidade financeira.
Calvino declarou que o “apostolado de Paulo era algo para o louvor de Deus, porquanto ele foi transformado de inimigo em servo” (COSTA, p. 65). Paulo fazia jus ao título de “servo de Jesus Cristo” (Rm 1.1), uma vez que servia a Deus em seu espírito (v9), sendo, portanto, um verdadeiro adorador (Jo 4.23,24). Paulo sempre se portou como servo do Senhor, com toda a humildade, dando toda a gloria a Jesus (1Co 9.16 e Gl 2.20), o que é muito difícil, pois o ser humano tem uma tendência à egolatria e à antropolatria. Houve uma tentativa de idolatrar Paulo e Barnabé, em sua primeira viagem missionária, mas eles lutaram bravamente contra isso e deram toda a glória a Jesus (At 14.11-18). Eles disseram aos que queriam lhes prestar culto: “Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões” (v15). Como têm se portado os pregadores itinerantes da atualidade? Dão eles toda a glória ao Senhor (Is 42.8), ou não se importam que as pessoas tacitamente os idolatrem?
Às vezes, Paulo gostava de apresentar seu curriculum vitae. Mas o que ele mais valorizava não era a sua fama no judaísmo. Ele preferia fazer menção das aflições, privações e angústias, além dos açoites, prisões, tumultos, vigílias e jejuns em prol da obra do Senhor (2Co 6.4-10). No seu currículo constavam também os 39 açoites recebidos dos judeus pelo menos cinco vezes! E não somente isso. Ele lembrava os seus discípulos de que fora fustigado com varas três vezes, sofrera três naufrágios, apedrejamentos, perigos de salteadores e assassinos, etc. (11.29).
Quando necessário, o pregador Paulo até mostrava suas credenciais de apóstolo, apontava para as multidões convertidas pelo Evangelho que pregava com simplicidade e no poder do Espírito, mas não fazia isso por soberba (2Co 3.1-4). Ele sempre lembrava seus discípulos de que ele era um mero servo de Jesus Cristo, assim com todos os outros, que fora chamado para exercer o ministério de apóstolo, pregador e mestre. Ele enfatizava que o seu sucesso em ganhar pessoas para Cristo se devia à graça de Deus, e não à sua capacidade (1Co 3.5-9). Ele pontificava que Deus requeria de todos obreiros que fossem fiéis e deixassem de lado a competição, a rivalidade, resistindo à tentação de uns quererem ser mais bem-sucedidos que outros (4.1-3).
Ao contrário dos animadores de auditório, pregadores malabaristas e milagreiros, ele era avesso à ideia de ter um fã-clube. E, por isso, evitava a ostentação e o emprego de linguagem rebuscada em suas ministrações, pregando somente a Cristo crucificado e evitando batizar muitas pessoas (1Co 1.14-23 e 2.1-5). Ele não queria que as pessoas se agregassem à igreja por causa de seus talentos e erudição, e sim pelo poder do Evangelho (1Ts 1.5).
Os pregadores da atualidade que querem viver como celebridades realmente não devem apreciar a vida de Paulo, que vivia sob constante ameaça de morte, sendo considerado um espetáculo para o mundo, um louco, desprezível e fraco (1Co 4.9-10). Paulo não era um superpregador. Em diversas ocasiões, foi esbofeteado e não tinha moradia certa ou casa própria; e também passou fome, sede e nudez (v11 e Fp 4.10-13). Ele trabalhava de dia e de noite, até cansar, a fim de garantir seu sustento (1Co 4.12). E, em vez de ser aplaudido — como certos pregadores que são convidados para programas de entrevistas para fazer a plateia rir —, ele era injuriado, caluniado e considerado o pior tipo de pessoa do mundo. O que fazia ele diante disso? Ele não revidava, mas dizia: “somos blasfemados e rogamos; até ao presente, temos chegado a ser como o lixo deste mundo e com a escória de todos” (v13).
Homem de lágrimas e corajoso
Paulo disse aos presbíteros efésios que servia ao Senhor, também, “com muitas lágrimas e tentações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram” (At 20.19). Quando ele mencionou “lágrimas”, referiu-se ao seu sofrimento e também aos seus momentos de oração, em que ele prostrado diante do Senhor derramava lágrimas na presença do Senhor, intercedendo pelos crentes da Ásia. Muitos questionam o costume de orarmos de joelhos, querendo saber de onde ele veio. A oração de joelhos era comum nos tempos da igreja primitiva (21.5), mas esse costume já existia desde os tempos veterotestamentários (Ed 9.5; Sl 109.24 e Dn 6.10). Chama a atenção, no Novo Testamento, as menções textuais a quatro pregadores que se puseram de joelhos: Jesus Cristo (Lc 22.41); Estêvão (At 7.60); Pedro (9.40); e Paulo. Este, depois de pregar aos presbíteros de Éfeso, em Mileto, “pôs-se de joelhos, e orou com todos eles” (20.36). E, ao escrever aos crentes de Éfeso, afirmou: “me ponho de joelhos” (Ef 3.14).
Paulo era um homem que sempre orou e jejuou (At 13.2,3). Essas duas coisas, aliás, estão “casadas” (Mc 9.29 e At 14.23). O jejum deve fazer parte da vida do pregador itinerante, mas ao lado da oração. Tanto que o Senhor Jesus, no Sermão da Montanha, ao ensinar-nos a orar, menciona, logo em seguida, o jejum, mostrando que este só é eficaz quando em conexão com aquele: “tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tu porta, ora a teu Pai, que vê o que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará. [...] E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas, [...] para não pareceres aos homens que jejuas, mas sim a teu Pai, que está oculto” (Mt 6.6-18).
O pregador Paulo também tinha ousadia para superar as ciladas dos judeus incrédulos. Ele era corajoso e falava “ousadamente acerca do Senhor” (At 14.3), não temendo as perseguições. Um pregador itinerante sem ousadia, coragem, não pode fazer a obra do Senhor; ele precisa dessa qualidade sobretudo nos momentos mais difíceis (4.31). A ousadia atua em conjunto com a nossa confiança de que o Senhor é o nosso Ajudador (Hb 13.5,6). E Paulo era um pregador itinerante tão ousado, a ponto de não se intimidar com os perigos e ameaças. No retorno de sua terceira viagem missionária, sabendo do ódio que havia em Jerusalém contra ele, declarou: “eu estou pronto, não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus” (At 21.13).
Como pregador itinerante, Paulo enfrentou a morte várias vezes. Em alguns momentos, ele chegou a pensar que a sua hora de partir havia realmente chegado (2Co 1.8-9). Ele passou por constantes sofrimentos e angústias por causa das igrejas e seus membros, individualmente, com os quais se preocupava muito, a ponto de lhes dizer: “em muita tribulação e angústia do coração, vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que vos entristecêsseis, mas para que conhecêsseis o amor que abundantemente vos tenho” (2.4). Ele era perdoador e pacificador, não querendo que os irmãos vivessem em contenda ou alimentando mágoa ou ódio em seu coração (v7-8).
Pregador cristocêntrico e cheio do Espírito Santo
“Pregar o evangelho significa anunciar toda a verdade acerca de Cristo contida nas Santas Escrituras. E, quando isso acontece, o Senhor coopera, confirmando a pregação com sinais (Mc 16.15-20 e Ef 6.17). O poder do evangelho reside, pois, na apresentação de toda a verdade da Palavra de Deus, e não em argumentações humanas, ainda que sejam coerentes e satisfaçam as exigências do limitado raciocínio humano. [...] O evangelho que Paulo proclamava não se resumia em palavras. Ele expunha a Palavra de Deus, e o Espírito Santo fazia a sua parte” (ZIBORDI, 2006, p. 170-171).
A pregação de Paulo aos presbíteros de Éfeso revela que ele era cheio do Espírito Santo e pregava uma mensagem cristocêntrica (At 20.20-23). Paulo testificava tanto a judeus como a gentios “o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus” (v21 - ARA). Quando ele aconselhou Timóteo a pregar a Palavra (2Tm 4.2), tinha autoridade para fazer isso, pois jamais pregou o que as pessoas desejavam ouvir, e sim o que recebera do Senhor, o que convinha à sã doutrina, o que o povo precisava ouvir (1Co 11.23 e Tt 2.1). Segue-se que é imprescindível para o pregador itinerante manejar bem a Palavra da verdade (2Tm 2.15), assim como Paulo a manejava (At 13.13-45).
Paulo disse aos presbíteros de Éfeso que iria a Jerusalém sem saber o que lhe aconteceria ali, “senão o que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me revela” (At 20.22-23). Ele era cheio do Espírito. E todo pregador que se preza também deve sê-lo. Aliás, o maior evangelista do século XX, em sua obra O Espírito Santo, afirmou que “é apropriado dizer que todo cristão não cheio do Espírito é incompleto. A ordem de Paulo aos cristãos de Éfeso, ‘enchei-vos do Espírito’, é válida para todos os cristãos, em qualquer época, em qualquer lugar. Não há exceções” (GRAHAM, 1988, p. 95).
Billy Graham, em outra obra — um opúsculo de grandes e repetidas tiragens na década de 1960 —, conta que estava “pregando numa igreja do Sul, há algum tempo. Um diácono compareceu embriagado. A igreja se reuniu em assembleia e o cortou da comunhão. [...] Perguntei ao pastor: ‘Todos os diáconos vêm cheios do Espírito Santo, aos domingos?’ Ele respondeu que não; eu continuei: ‘Alguma vez o senhor os expulsou por isso?’ ‘Não!’ — Eu disse então: ‘O senhor sabia que o mesmo versículo que diz ‘não vos embriagueis com vinho’ diz também ‘enchei-vos do Espírito?’ Isto não é apenas um conselho, [...] Deus disse: ‘Enchei-vos do Espírito’” (GRAHAM, 1968, p. 8).
Ser cheio do Espírito Santo é muito mais que ser batizado com o Espírito ou ter dons espirituais. Ser cheio do Espírito significa ter a vida inteiramente controlada pelo Consolador (Ef 5.18). Assim como uma pessoa embriagada, cheia de bebida alcoólica, por assim dizer, está sob a influência do álcool, o pregador cheio do Espírito está sob a influência Dele e tem a sua vida dirigida por Ele, à semelhança de Filipe. E o que se destaca na biografia desse diácono-evangelista da igreja primitiva é a sua obediência. Ele pregava a multidões em Samaria, quando foi chamado a partir para a estrada de Gaza, que estava deserta, e, sem questionar, dirigiu-se para lá e pregou o Evangelho a um importante funcionário da rainha Candace, da Etiópia (At 8.5-27).
Como prova de que Paulo era cheio do Espírito e tinha profunda comunhão com Ele, este lhe revelava muitas coisas que aconteceriam em sua vida. Isso aconteceu também na vida de Samuel (1Sm 9.15) e de Simeão (Lc 2.26). Deus, que conhece todas as coisas e “revela os segredos” (Dn 2.28), disse através do profeta ao Amós que não faria coisa alguma “sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas” (Am 3.7). Daí a necessidade se termos a vida dirigida inteiramente por Ele! O espírito de Paulo, sob o controle do Espírito Santo, sentia-se compelido, no momento em que discursava em Mileto, a ir a Jerusalém. Ele, de fato, era guiado pelo Espírito de Deus (At 16.1-10) e tinha discernimento espiritual e autoridade (13.10-46), virtudes que não podem faltar a nenhum pregador itinerante (Lc 10.19, ARA e 1Rs 22.28-37).
Convicto da chamada e compromissado com a Palavra
Uma das partes mais fortes da pregação de Paulo em Mileto foi esta: “em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho da graça de Deus. [...] porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus” (At 20.24-27). O pregador itinerante Paulo tomava muito cuidado para não torcer a mensagem do Evangelho (Gl 1.6-8). Ele não andava com astúcia, nem procurava enganar seus ouvintes para tirar proveito financeiro deles (2Co 4.1-2). Ele jamais pregou mensagens de autoajuda, pensando em massagear os egos dos crentes e descrentes.
O seu compromisso era com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra. Ele vivia como um condenado à morte, levando em seu corpo as marcas do Senhor Jesus (Gl 6.17), bem como suportando calúnias e injúrias, sofrimentos e provações, privações e perseguições (2Co 4.7-15). Seus pés estavam na terra, mas sua cabeça já estava no céu. Ele não priorizava riquezas, propriedades e bens. Seu alvo era a glória celestial, as coisas invisíveis e eternas reservadas aos santos e fiéis (v16-18).
Quando ouço “itinerantes” fazendo apelos emocionais por causa do seu amor ao dinheiro (1Tm 6.10), lembro-me do que Paulo disse aos crentes de Corinto: “não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos, por amor de Jesus” (2Co 4.5). Se eles fossem como o pregador itinerante Paulo, não amariam o dinheiro (1 Tm 3.3 e Ef 5.5). Mas, infelizmente, pelo vil metal estão eles dispostos a fazer tudo (Nm 22.10-22; 2Pd 2.15,16 e Is 56.11). Esquecem-se de que o compromisso do pregador não é com as suas próprias necessidades ou com as preferências do povo, e sim com o Deus da Palavra e com a Palavra de Deus (Ez 2 e At 7).
Zeloso e desapegado dos bens materiais
Paulo não apenas expunha o Evangelho; ele se opunha aos erros que vinham de fora e os que surgiam entre os irmãos (At 20.28-31). Ele afirmou que Deus o pusera “para defesa do Evangelho” (Fp 1.16). E, por isso, opôs-se aos falsos apóstolos de Corinto, aos quais chamou, ironicamente, de “mais excelentes apóstolos” (2Co 11), e aos judaizantes da Galácia (Gl 1.18). Essa conduta apologética, de defensor do Evangelho e também do rebanho, também ficou evidente em Filipenses 3.18 e Tito 1.10-11 e em outras partes de suas epístolas. De acordo com Atos 20.28, Paulo foi um legítimo defensor da Assembleia de Deus (gr. ekkesian tou theou), isto é da Igreja Universal, formada pelos salvos de todas as épocas, de todas as denominações, a qual o Senhor “resgatou com seu próprio sangue”.
Causa-me estranheza quando ouço de um pregador itinerante dizendo que deseja muito pastorear uma igreja, pois assim terá o seu sustento garantido e não precisará mais viajar. O pregador itinerante verdadeiramente chamado por Deus não viaja, sobretudo, porque quer ou goste de viajar, ou ainda porque precisa manter sua família. A pregação itinerante não é uma profissão como qualquer outra. Quem recebeu de Deus um ministério itinerante tem como motivação principal o chamamento divino. E todas as outras coisas, inclusive, o sustendo financeiro vêm como consequência, pois o Senhor se encarrega de tudo.
O pregador Paulo disse: “De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem a veste. [...] Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20.33-35). Alguns “itinerantes”, mal-orientados ou mal-intencionados, dizem que não exigem cachês para pregar, mas empregam técnicas reprováveis para “arrancar” tudo o que for possível dos incautos, como dinheiro, relógios, alianças, cheques, etc. E alguns ainda acham que isso é um dom especial que receberam do Senhor. Façam-me o favor!
Paulo passou muitas privações e teve de trabalhar arduamente para não ser pesado às igrejas; e a responsabilidade de cuidar delas pesava constantemente sobre seus ombros. Mesmo assim, não queria receber oferta para não dar motivo para o acusarem de mercenário (2Co 11.7-9). O pregador Paulo não vivia da “itinerância”, ao contrário de muitos, hoje, que reivindicam isso e até afirmam que a pregação itinerante é uma profissão como qualquer outra. Ele trabalhava para se sustentar, visto que muitos criticavam os pregadores que viviam do Evangelho e diziam erroneamente que eles não tinham o direito de receber sustento da igreja (1Co 9.1-12).
Ao se despedir dos presbíteros de Éfeso, em Mileto, Paulo foi abraçado afetuosamente por todos (At 20.36-38). Ele deixou saudades (cf. 2Cr 21.20). A Grande Comissão consiste em pregar o Evangelho e ensinar a sã doutrina, fazendo discípulos de todos os povos e batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo (Mc 16.15,16 e Mt 28.19). E o pregador itinerante não prega apenas com as palavras; ele prega com a sua vida. Seu comportamento é observado pela igreja. E, se a sua conduta e a sua postura forem condizentes com a Palavra de Deus que ele prega, isso contribuirá para a formação de discípulos (At 13.46-52 e 14.19-28). Essa é mais uma missão do pregador itinerante: deixar discípulos de Jesus Cristo em vários lugares (1Co 11.1).
* Ciro Sanches Zibordi é pastor na Assembleia de Deus em Niterói-RJ, articulista e autor dos livros: Erros que os Pregadores Devem Evitar, Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria e Erros Escatológicos que os Pregadores Devem Evitar, publicados pela CPAD.
REFERÊNCIAS
COSTA, Hermisten. Calvino de A a Z. 1. ed. São Paulo: Editora Vida, 2006.
GRAHAM, Billy. A Plenitude do Espírito e como Obtê-la. 3. ed. São Paulo: Edições Enéas Tognini, 1968.
________. O Espírito Santo. 1. ed. São Paulo: Edições Vida Nova, 1988.
ZIBORDI, Ciro Sanches. Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
Artigo publicado na revista Obreiro Aprovado (CPAD), ano 36, número 67
Características do pregador itinerante, sua vida e pregação com ênfase na vida do apóstolo Paulo
Paulo foi um pregador itinerante muito diferente de qualquer um que já andou na terra. As cartas que ele escreveu à igreja de Corinto, especialmente — as de maior cunho pessoal —, revelam como era a sua vida diária e o seu procedimento como pregador e apóstolo. Mas, na sua pregação aos presbíteros (anciãos) de Éfeso, em Mileto, no retorno de sua terceira viagem missionária, identificamos algumas marcas de um verdadeiro pregador do Evangelho na vida de Paulo, as quais foram enumeradas pelo próprio apóstolo (At 20.18-19).
Servo de Jesus Cristo e humilde
Chama a atenção, em Atos dos Apóstolos e nas epístolas paulinas, o frequente emprego do termo “Senhor Jesus Cristo”, o qual é usado pelo apóstolo Paulo por mais de setenta vezes. Esse título, de modo sintético, revela que Jesus é o Senhor (Lc 2.11), o Salvador — pois este o significado do nome Jesus (Mt 1.21) — e o Cristo, o ungido de Deus (Lc 4.18). Em outras palavras, esse título contempla três tipos de relacionamento de Jesus: o Dele para com o Pai, como o Cristo; o Dele para conosco, como o Salvador; e o nosso relacionamento para com Ele, como servos, haja vista ser Ele o Senhor.
Na pregação aos presbíteros de Éfeso, Paulo asseverou que, durante o tempo em que esteve na província da Ásia, testificou “tanto aos judeus como aos gregos, a conversão a Deus, e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20.21). Ele quis dizer que não pregava um Evangelho incompleto, parcial, dizendo que Jesus era apenas o Salvador, por exemplo. Ele fazia questão de enfatizar que Jesus é o Senhor, o Salvador e o Cristo! Nos dias atuais, poucos são os pregadores que falam do Senhor Jesus Cristo. Muitos sequer enfatizam que Jesus é o Salvador, visto que só pregam sobre prosperidade financeira.
Calvino declarou que o “apostolado de Paulo era algo para o louvor de Deus, porquanto ele foi transformado de inimigo em servo” (COSTA, p. 65). Paulo fazia jus ao título de “servo de Jesus Cristo” (Rm 1.1), uma vez que servia a Deus em seu espírito (v9), sendo, portanto, um verdadeiro adorador (Jo 4.23,24). Paulo sempre se portou como servo do Senhor, com toda a humildade, dando toda a gloria a Jesus (1Co 9.16 e Gl 2.20), o que é muito difícil, pois o ser humano tem uma tendência à egolatria e à antropolatria. Houve uma tentativa de idolatrar Paulo e Barnabé, em sua primeira viagem missionária, mas eles lutaram bravamente contra isso e deram toda a glória a Jesus (At 14.11-18). Eles disseram aos que queriam lhes prestar culto: “Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões” (v15). Como têm se portado os pregadores itinerantes da atualidade? Dão eles toda a glória ao Senhor (Is 42.8), ou não se importam que as pessoas tacitamente os idolatrem?
Às vezes, Paulo gostava de apresentar seu curriculum vitae. Mas o que ele mais valorizava não era a sua fama no judaísmo. Ele preferia fazer menção das aflições, privações e angústias, além dos açoites, prisões, tumultos, vigílias e jejuns em prol da obra do Senhor (2Co 6.4-10). No seu currículo constavam também os 39 açoites recebidos dos judeus pelo menos cinco vezes! E não somente isso. Ele lembrava os seus discípulos de que fora fustigado com varas três vezes, sofrera três naufrágios, apedrejamentos, perigos de salteadores e assassinos, etc. (11.29).
Quando necessário, o pregador Paulo até mostrava suas credenciais de apóstolo, apontava para as multidões convertidas pelo Evangelho que pregava com simplicidade e no poder do Espírito, mas não fazia isso por soberba (2Co 3.1-4). Ele sempre lembrava seus discípulos de que ele era um mero servo de Jesus Cristo, assim com todos os outros, que fora chamado para exercer o ministério de apóstolo, pregador e mestre. Ele enfatizava que o seu sucesso em ganhar pessoas para Cristo se devia à graça de Deus, e não à sua capacidade (1Co 3.5-9). Ele pontificava que Deus requeria de todos obreiros que fossem fiéis e deixassem de lado a competição, a rivalidade, resistindo à tentação de uns quererem ser mais bem-sucedidos que outros (4.1-3).
Ao contrário dos animadores de auditório, pregadores malabaristas e milagreiros, ele era avesso à ideia de ter um fã-clube. E, por isso, evitava a ostentação e o emprego de linguagem rebuscada em suas ministrações, pregando somente a Cristo crucificado e evitando batizar muitas pessoas (1Co 1.14-23 e 2.1-5). Ele não queria que as pessoas se agregassem à igreja por causa de seus talentos e erudição, e sim pelo poder do Evangelho (1Ts 1.5).
Os pregadores da atualidade que querem viver como celebridades realmente não devem apreciar a vida de Paulo, que vivia sob constante ameaça de morte, sendo considerado um espetáculo para o mundo, um louco, desprezível e fraco (1Co 4.9-10). Paulo não era um superpregador. Em diversas ocasiões, foi esbofeteado e não tinha moradia certa ou casa própria; e também passou fome, sede e nudez (v11 e Fp 4.10-13). Ele trabalhava de dia e de noite, até cansar, a fim de garantir seu sustento (1Co 4.12). E, em vez de ser aplaudido — como certos pregadores que são convidados para programas de entrevistas para fazer a plateia rir —, ele era injuriado, caluniado e considerado o pior tipo de pessoa do mundo. O que fazia ele diante disso? Ele não revidava, mas dizia: “somos blasfemados e rogamos; até ao presente, temos chegado a ser como o lixo deste mundo e com a escória de todos” (v13).
Homem de lágrimas e corajoso
Paulo disse aos presbíteros efésios que servia ao Senhor, também, “com muitas lágrimas e tentações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram” (At 20.19). Quando ele mencionou “lágrimas”, referiu-se ao seu sofrimento e também aos seus momentos de oração, em que ele prostrado diante do Senhor derramava lágrimas na presença do Senhor, intercedendo pelos crentes da Ásia. Muitos questionam o costume de orarmos de joelhos, querendo saber de onde ele veio. A oração de joelhos era comum nos tempos da igreja primitiva (21.5), mas esse costume já existia desde os tempos veterotestamentários (Ed 9.5; Sl 109.24 e Dn 6.10). Chama a atenção, no Novo Testamento, as menções textuais a quatro pregadores que se puseram de joelhos: Jesus Cristo (Lc 22.41); Estêvão (At 7.60); Pedro (9.40); e Paulo. Este, depois de pregar aos presbíteros de Éfeso, em Mileto, “pôs-se de joelhos, e orou com todos eles” (20.36). E, ao escrever aos crentes de Éfeso, afirmou: “me ponho de joelhos” (Ef 3.14).
Paulo era um homem que sempre orou e jejuou (At 13.2,3). Essas duas coisas, aliás, estão “casadas” (Mc 9.29 e At 14.23). O jejum deve fazer parte da vida do pregador itinerante, mas ao lado da oração. Tanto que o Senhor Jesus, no Sermão da Montanha, ao ensinar-nos a orar, menciona, logo em seguida, o jejum, mostrando que este só é eficaz quando em conexão com aquele: “tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tu porta, ora a teu Pai, que vê o que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará. [...] E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas, [...] para não pareceres aos homens que jejuas, mas sim a teu Pai, que está oculto” (Mt 6.6-18).
O pregador Paulo também tinha ousadia para superar as ciladas dos judeus incrédulos. Ele era corajoso e falava “ousadamente acerca do Senhor” (At 14.3), não temendo as perseguições. Um pregador itinerante sem ousadia, coragem, não pode fazer a obra do Senhor; ele precisa dessa qualidade sobretudo nos momentos mais difíceis (4.31). A ousadia atua em conjunto com a nossa confiança de que o Senhor é o nosso Ajudador (Hb 13.5,6). E Paulo era um pregador itinerante tão ousado, a ponto de não se intimidar com os perigos e ameaças. No retorno de sua terceira viagem missionária, sabendo do ódio que havia em Jerusalém contra ele, declarou: “eu estou pronto, não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus” (At 21.13).
Como pregador itinerante, Paulo enfrentou a morte várias vezes. Em alguns momentos, ele chegou a pensar que a sua hora de partir havia realmente chegado (2Co 1.8-9). Ele passou por constantes sofrimentos e angústias por causa das igrejas e seus membros, individualmente, com os quais se preocupava muito, a ponto de lhes dizer: “em muita tribulação e angústia do coração, vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que vos entristecêsseis, mas para que conhecêsseis o amor que abundantemente vos tenho” (2.4). Ele era perdoador e pacificador, não querendo que os irmãos vivessem em contenda ou alimentando mágoa ou ódio em seu coração (v7-8).
Pregador cristocêntrico e cheio do Espírito Santo
“Pregar o evangelho significa anunciar toda a verdade acerca de Cristo contida nas Santas Escrituras. E, quando isso acontece, o Senhor coopera, confirmando a pregação com sinais (Mc 16.15-20 e Ef 6.17). O poder do evangelho reside, pois, na apresentação de toda a verdade da Palavra de Deus, e não em argumentações humanas, ainda que sejam coerentes e satisfaçam as exigências do limitado raciocínio humano. [...] O evangelho que Paulo proclamava não se resumia em palavras. Ele expunha a Palavra de Deus, e o Espírito Santo fazia a sua parte” (ZIBORDI, 2006, p. 170-171).
A pregação de Paulo aos presbíteros de Éfeso revela que ele era cheio do Espírito Santo e pregava uma mensagem cristocêntrica (At 20.20-23). Paulo testificava tanto a judeus como a gentios “o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus” (v21 - ARA). Quando ele aconselhou Timóteo a pregar a Palavra (2Tm 4.2), tinha autoridade para fazer isso, pois jamais pregou o que as pessoas desejavam ouvir, e sim o que recebera do Senhor, o que convinha à sã doutrina, o que o povo precisava ouvir (1Co 11.23 e Tt 2.1). Segue-se que é imprescindível para o pregador itinerante manejar bem a Palavra da verdade (2Tm 2.15), assim como Paulo a manejava (At 13.13-45).
Paulo disse aos presbíteros de Éfeso que iria a Jerusalém sem saber o que lhe aconteceria ali, “senão o que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me revela” (At 20.22-23). Ele era cheio do Espírito. E todo pregador que se preza também deve sê-lo. Aliás, o maior evangelista do século XX, em sua obra O Espírito Santo, afirmou que “é apropriado dizer que todo cristão não cheio do Espírito é incompleto. A ordem de Paulo aos cristãos de Éfeso, ‘enchei-vos do Espírito’, é válida para todos os cristãos, em qualquer época, em qualquer lugar. Não há exceções” (GRAHAM, 1988, p. 95).
Billy Graham, em outra obra — um opúsculo de grandes e repetidas tiragens na década de 1960 —, conta que estava “pregando numa igreja do Sul, há algum tempo. Um diácono compareceu embriagado. A igreja se reuniu em assembleia e o cortou da comunhão. [...] Perguntei ao pastor: ‘Todos os diáconos vêm cheios do Espírito Santo, aos domingos?’ Ele respondeu que não; eu continuei: ‘Alguma vez o senhor os expulsou por isso?’ ‘Não!’ — Eu disse então: ‘O senhor sabia que o mesmo versículo que diz ‘não vos embriagueis com vinho’ diz também ‘enchei-vos do Espírito?’ Isto não é apenas um conselho, [...] Deus disse: ‘Enchei-vos do Espírito’” (GRAHAM, 1968, p. 8).
Ser cheio do Espírito Santo é muito mais que ser batizado com o Espírito ou ter dons espirituais. Ser cheio do Espírito significa ter a vida inteiramente controlada pelo Consolador (Ef 5.18). Assim como uma pessoa embriagada, cheia de bebida alcoólica, por assim dizer, está sob a influência do álcool, o pregador cheio do Espírito está sob a influência Dele e tem a sua vida dirigida por Ele, à semelhança de Filipe. E o que se destaca na biografia desse diácono-evangelista da igreja primitiva é a sua obediência. Ele pregava a multidões em Samaria, quando foi chamado a partir para a estrada de Gaza, que estava deserta, e, sem questionar, dirigiu-se para lá e pregou o Evangelho a um importante funcionário da rainha Candace, da Etiópia (At 8.5-27).
Como prova de que Paulo era cheio do Espírito e tinha profunda comunhão com Ele, este lhe revelava muitas coisas que aconteceriam em sua vida. Isso aconteceu também na vida de Samuel (1Sm 9.15) e de Simeão (Lc 2.26). Deus, que conhece todas as coisas e “revela os segredos” (Dn 2.28), disse através do profeta ao Amós que não faria coisa alguma “sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas” (Am 3.7). Daí a necessidade se termos a vida dirigida inteiramente por Ele! O espírito de Paulo, sob o controle do Espírito Santo, sentia-se compelido, no momento em que discursava em Mileto, a ir a Jerusalém. Ele, de fato, era guiado pelo Espírito de Deus (At 16.1-10) e tinha discernimento espiritual e autoridade (13.10-46), virtudes que não podem faltar a nenhum pregador itinerante (Lc 10.19, ARA e 1Rs 22.28-37).
Convicto da chamada e compromissado com a Palavra
Uma das partes mais fortes da pregação de Paulo em Mileto foi esta: “em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho da graça de Deus. [...] porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus” (At 20.24-27). O pregador itinerante Paulo tomava muito cuidado para não torcer a mensagem do Evangelho (Gl 1.6-8). Ele não andava com astúcia, nem procurava enganar seus ouvintes para tirar proveito financeiro deles (2Co 4.1-2). Ele jamais pregou mensagens de autoajuda, pensando em massagear os egos dos crentes e descrentes.
O seu compromisso era com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra. Ele vivia como um condenado à morte, levando em seu corpo as marcas do Senhor Jesus (Gl 6.17), bem como suportando calúnias e injúrias, sofrimentos e provações, privações e perseguições (2Co 4.7-15). Seus pés estavam na terra, mas sua cabeça já estava no céu. Ele não priorizava riquezas, propriedades e bens. Seu alvo era a glória celestial, as coisas invisíveis e eternas reservadas aos santos e fiéis (v16-18).
Quando ouço “itinerantes” fazendo apelos emocionais por causa do seu amor ao dinheiro (1Tm 6.10), lembro-me do que Paulo disse aos crentes de Corinto: “não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos, por amor de Jesus” (2Co 4.5). Se eles fossem como o pregador itinerante Paulo, não amariam o dinheiro (1 Tm 3.3 e Ef 5.5). Mas, infelizmente, pelo vil metal estão eles dispostos a fazer tudo (Nm 22.10-22; 2Pd 2.15,16 e Is 56.11). Esquecem-se de que o compromisso do pregador não é com as suas próprias necessidades ou com as preferências do povo, e sim com o Deus da Palavra e com a Palavra de Deus (Ez 2 e At 7).
Zeloso e desapegado dos bens materiais
Paulo não apenas expunha o Evangelho; ele se opunha aos erros que vinham de fora e os que surgiam entre os irmãos (At 20.28-31). Ele afirmou que Deus o pusera “para defesa do Evangelho” (Fp 1.16). E, por isso, opôs-se aos falsos apóstolos de Corinto, aos quais chamou, ironicamente, de “mais excelentes apóstolos” (2Co 11), e aos judaizantes da Galácia (Gl 1.18). Essa conduta apologética, de defensor do Evangelho e também do rebanho, também ficou evidente em Filipenses 3.18 e Tito 1.10-11 e em outras partes de suas epístolas. De acordo com Atos 20.28, Paulo foi um legítimo defensor da Assembleia de Deus (gr. ekkesian tou theou), isto é da Igreja Universal, formada pelos salvos de todas as épocas, de todas as denominações, a qual o Senhor “resgatou com seu próprio sangue”.
Causa-me estranheza quando ouço de um pregador itinerante dizendo que deseja muito pastorear uma igreja, pois assim terá o seu sustento garantido e não precisará mais viajar. O pregador itinerante verdadeiramente chamado por Deus não viaja, sobretudo, porque quer ou goste de viajar, ou ainda porque precisa manter sua família. A pregação itinerante não é uma profissão como qualquer outra. Quem recebeu de Deus um ministério itinerante tem como motivação principal o chamamento divino. E todas as outras coisas, inclusive, o sustendo financeiro vêm como consequência, pois o Senhor se encarrega de tudo.
O pregador Paulo disse: “De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem a veste. [...] Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20.33-35). Alguns “itinerantes”, mal-orientados ou mal-intencionados, dizem que não exigem cachês para pregar, mas empregam técnicas reprováveis para “arrancar” tudo o que for possível dos incautos, como dinheiro, relógios, alianças, cheques, etc. E alguns ainda acham que isso é um dom especial que receberam do Senhor. Façam-me o favor!
Paulo passou muitas privações e teve de trabalhar arduamente para não ser pesado às igrejas; e a responsabilidade de cuidar delas pesava constantemente sobre seus ombros. Mesmo assim, não queria receber oferta para não dar motivo para o acusarem de mercenário (2Co 11.7-9). O pregador Paulo não vivia da “itinerância”, ao contrário de muitos, hoje, que reivindicam isso e até afirmam que a pregação itinerante é uma profissão como qualquer outra. Ele trabalhava para se sustentar, visto que muitos criticavam os pregadores que viviam do Evangelho e diziam erroneamente que eles não tinham o direito de receber sustento da igreja (1Co 9.1-12).
Ao se despedir dos presbíteros de Éfeso, em Mileto, Paulo foi abraçado afetuosamente por todos (At 20.36-38). Ele deixou saudades (cf. 2Cr 21.20). A Grande Comissão consiste em pregar o Evangelho e ensinar a sã doutrina, fazendo discípulos de todos os povos e batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo (Mc 16.15,16 e Mt 28.19). E o pregador itinerante não prega apenas com as palavras; ele prega com a sua vida. Seu comportamento é observado pela igreja. E, se a sua conduta e a sua postura forem condizentes com a Palavra de Deus que ele prega, isso contribuirá para a formação de discípulos (At 13.46-52 e 14.19-28). Essa é mais uma missão do pregador itinerante: deixar discípulos de Jesus Cristo em vários lugares (1Co 11.1).
* Ciro Sanches Zibordi é pastor na Assembleia de Deus em Niterói-RJ, articulista e autor dos livros: Erros que os Pregadores Devem Evitar, Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria e Erros Escatológicos que os Pregadores Devem Evitar, publicados pela CPAD.
REFERÊNCIAS
COSTA, Hermisten. Calvino de A a Z. 1. ed. São Paulo: Editora Vida, 2006.
GRAHAM, Billy. A Plenitude do Espírito e como Obtê-la. 3. ed. São Paulo: Edições Enéas Tognini, 1968.
________. O Espírito Santo. 1. ed. São Paulo: Edições Vida Nova, 1988.
ZIBORDI, Ciro Sanches. Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
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