Em Juízes 11, a Palavra de Deus apresenta a história de Jeftá (ou Jefté), juiz corajoso e temente a Deus que levou o povo israelita a uma grande vitória sobre os seus inimigos. Antes da peleja com os filhos de Amom, Jeftá fez um voto de sacrificar em holocausto — “... oferta queimada por inteiro” (Dicionário Vine, CPAD, p. 203) — ao Senhor aquilo (ou “quem”, ARA) que lhe saísse ao encontro, quando retornasse vitorioso.
Para sua surpresa, sua própria filha o recepcionou com alegria, deixando-o extremamente frustrado. É aqui que começa o problema teológico, gerando uma verdadeira “guerra santa” entre os teólogos. Afinal, Jeftá ofereceu ou não a sua filha em holocausto?
São muitas as conjeturas teológicas sobre essa passagem, mas as principais são duas: Jeftá conhecia a lei que proibia o sacrifício humano (cf. Lv 18.21; Dt 12.31) e, por isso, não sacrificou sua filha. Ele teria entregado a jovem ao serviço Senhor, tal como o foi Samuel (cf. 1 Sm 1.24).
A moça, portanto, teria sido oferecida em sacrifício vivo, devendo permanecer virgem até à morte, conforme se infere de Juízes 11.37-39. Mas tudo isso é suposição! Nada disso está escrito na narrativa bíblica.
O que, de fato, dizem as Escrituras? É preciso ler com atenção:
1) “E Jeftá votou um voto ao Senhor, e disse: Se totalmente deres os filhos de Amom na minha mão, aquilo [ou aquele] que, saindo da porta de minha casa, me sair ao encontro (...) isso será do Senhor, e o oferecerei em holocausto” (Jz 11.30,31). Qual foi o voto de Jeftá? “... oferecerei em holocausto”.
2) “Vindo, pois, Jeftá a Mizpá (...) eis que a sua filha lhe saiu ao encontro (...) E aconteceu que, quando a viu, rasgou os seus vestidos, e disse: Ah! filha minha, muito me abateste (...) porque eu abri a minha boca ao Senhor, e não tornarei atrás” (Jz 11.34,35). Jeftá estava disposto a voltar atrás no que votara? Não! Disse: “... não tornarei atrás”.
3) “E ela disse: Pai meu, abriste tu a tua boca ao Senhor; faze de mim como saiu da tua boca...” (Jz 11.36). A filha de Jeftá estava disposta a ser oferecida em holocausto? Sim: “... faze de mim como saiu da tua boca”.
4) “Disse mais ela a seu pai: Faça-se-me isto: deixa-me por dois meses que vá, e desça pelos montes, e chore a minha virgindade (...) então foi-se ela com as suas companheiras, e chorou a sua virgindade pelos montes” (Jz 11.37,38). Por que a moça choraria tanto tempo, se não acreditasse que o voto seria cumprido do modo como fora feito?
5) “E sucedeu que, ao fim de dois meses, tornou ela para seu pai, o qual cumpriu nela o seu voto que tinha votado; e ela não conheceu varão...” (Jz 11.39). Que voto Jeftá cumpriu? “... o voto que tinha votado”. Ou seja, oferta inteiramente queimada.
6) “... E daqui veio o costume em Israel, que as filhas de Israel iam de ano em ano a lamentar a filha de Jeftá, o gileadita, por quatro dias no ano” (Jz 11.39,40). O cumprimento do voto de Jeftá causou grande comoção entre as jovens israelitas, a ponto de levá-las a lamentar o episódio quatro vezes no ano... Por que lamentariam tanto, se a moça não tivesse morrido?
Essa passagem fica ainda mais compreensível na versão Almeida Revista e Atualizada (ARA): “Daqui veio o costume em Israel, de as filhas de Israel saírem por quatro dias de ano em ano cantar em memória da filha de Jefté, o gileadita”. Você já viu alguém cantar em memória de quem está vivo?
Portanto, a polêmica em torno dessa passagem é teológica, e não bíblica. A Bíblia é categórica quanto a esse assunto. Porém, algo que deve ficar muito claro é que Deus jamais aceitaria sacrifícios humanos. Jeftá ofereceu a sua filha em holocausto porque ele quis, e não porque o Senhor o aceitasse como condição para abençoar o seu povo.
Ciro Sanches Zibordi
Para saber mais, leia Erros que os Pregadores Devem Evitar, editado pela CPAD, de minha modesta autoria.
Para sua surpresa, sua própria filha o recepcionou com alegria, deixando-o extremamente frustrado. É aqui que começa o problema teológico, gerando uma verdadeira “guerra santa” entre os teólogos. Afinal, Jeftá ofereceu ou não a sua filha em holocausto?
São muitas as conjeturas teológicas sobre essa passagem, mas as principais são duas: Jeftá conhecia a lei que proibia o sacrifício humano (cf. Lv 18.21; Dt 12.31) e, por isso, não sacrificou sua filha. Ele teria entregado a jovem ao serviço Senhor, tal como o foi Samuel (cf. 1 Sm 1.24).
A moça, portanto, teria sido oferecida em sacrifício vivo, devendo permanecer virgem até à morte, conforme se infere de Juízes 11.37-39. Mas tudo isso é suposição! Nada disso está escrito na narrativa bíblica.
O que, de fato, dizem as Escrituras? É preciso ler com atenção:
1) “E Jeftá votou um voto ao Senhor, e disse: Se totalmente deres os filhos de Amom na minha mão, aquilo [ou aquele] que, saindo da porta de minha casa, me sair ao encontro (...) isso será do Senhor, e o oferecerei em holocausto” (Jz 11.30,31). Qual foi o voto de Jeftá? “... oferecerei em holocausto”.
2) “Vindo, pois, Jeftá a Mizpá (...) eis que a sua filha lhe saiu ao encontro (...) E aconteceu que, quando a viu, rasgou os seus vestidos, e disse: Ah! filha minha, muito me abateste (...) porque eu abri a minha boca ao Senhor, e não tornarei atrás” (Jz 11.34,35). Jeftá estava disposto a voltar atrás no que votara? Não! Disse: “... não tornarei atrás”.
3) “E ela disse: Pai meu, abriste tu a tua boca ao Senhor; faze de mim como saiu da tua boca...” (Jz 11.36). A filha de Jeftá estava disposta a ser oferecida em holocausto? Sim: “... faze de mim como saiu da tua boca”.
4) “Disse mais ela a seu pai: Faça-se-me isto: deixa-me por dois meses que vá, e desça pelos montes, e chore a minha virgindade (...) então foi-se ela com as suas companheiras, e chorou a sua virgindade pelos montes” (Jz 11.37,38). Por que a moça choraria tanto tempo, se não acreditasse que o voto seria cumprido do modo como fora feito?
5) “E sucedeu que, ao fim de dois meses, tornou ela para seu pai, o qual cumpriu nela o seu voto que tinha votado; e ela não conheceu varão...” (Jz 11.39). Que voto Jeftá cumpriu? “... o voto que tinha votado”. Ou seja, oferta inteiramente queimada.
6) “... E daqui veio o costume em Israel, que as filhas de Israel iam de ano em ano a lamentar a filha de Jeftá, o gileadita, por quatro dias no ano” (Jz 11.39,40). O cumprimento do voto de Jeftá causou grande comoção entre as jovens israelitas, a ponto de levá-las a lamentar o episódio quatro vezes no ano... Por que lamentariam tanto, se a moça não tivesse morrido?
Essa passagem fica ainda mais compreensível na versão Almeida Revista e Atualizada (ARA): “Daqui veio o costume em Israel, de as filhas de Israel saírem por quatro dias de ano em ano cantar em memória da filha de Jefté, o gileadita”. Você já viu alguém cantar em memória de quem está vivo?
Portanto, a polêmica em torno dessa passagem é teológica, e não bíblica. A Bíblia é categórica quanto a esse assunto. Porém, algo que deve ficar muito claro é que Deus jamais aceitaria sacrifícios humanos. Jeftá ofereceu a sua filha em holocausto porque ele quis, e não porque o Senhor o aceitasse como condição para abençoar o seu povo.
Ciro Sanches Zibordi
Para saber mais, leia Erros que os Pregadores Devem Evitar, editado pela CPAD, de minha modesta autoria.
Comentários
Muito esclarecedora sua postagem!
Deus te dê vida e saúde,para que possamos continuar gozando do privilégio de crescer espiritualmente com seus artigos de ensinamentos e esclarecimentos.
Pastor Carlos Roberto - Cubatão - SP
Gostei do seu artigo e fiquei feliz com a hermenêutica usada.
Nota-se o desespero de Jefté por colocar em risco a sua própria descendência.
Sua filha não poderia lhe dá uma descendência de guerreiros, isto, talvez, perturbou Jefté.
Um grande abraço,
Pr. Heron
Aliança Ministerial
Paz do Senhor!
Um dos obreiros da nossa igreja suscitou uma dúvida acerca do versículo "(I Corintios 14:32) - E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas".
Eu indiquei seus artigos "Aos que têm dúvidas sobre o "cai-cai" (1)" entre outros publicados pelo senhor, mas ele quer saber se a sujeição dos espíritos aos profetas se aplica em todo sentido, tipo, o profeta pode limitar a ação do Espírito em qualquer situação?
Sei q sempre tens atenção às perguntas dos leitores. Desde já agradeço sua atenção.
Paz!
Precisamos respeitar a Bíblia e também ter bom senso, além de simplesmente raciocinar, com todo o respeito.
Veja o que o irmão acabou de dizer? Com base em Hebreus 11.32-34, afirmou que Jefté não matou a sua filha. Bem, pelo seu argumento, podemos descobrir outras "verdades":
1) Gideão não matou midianitas.
2) Sansão não matou filisteus.
3) Davi não matou Golias.
4) Samuel não matou Agague.
É simples sua lógica! Quem aparecer na galeria dos heróis da fé é porque não matou ninguém!
Tente de novo! E não fique bravo, hein? Risos...
CSZ
FONTE(BIBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL)DA CPAD.
À princípio quero parabenizá-lo Pr. pelos temas do blog.Amo suas publicações,mas permita-me querido discordar quanto a esse tema.
Diante do exposto,posto não para contradizê-lo, mas para expressar minha opnião sobre esse assunto. Lendo o texto sagrado deparei-me com a seguinte expressão
(v.31): "aquilo que,...,isso será do SENHOR, e o oferecerei em holocausto".
O que me fez chegar à conclusão que o sacrificio de sua filha foi de fato, a sua entrega ao serviço do SENHOR,pelo pai, foi:"isso será do SENHOR".Pois bem, Jefté poderia reaver sua filha se a tivesse ofertado para holocausto, isso com base no código levítico(Lv 27.2-8).
"E o oferecerei em holocausto", denota que, além de ter que abrir mão de sua filha (pois sabia que era o único ser humano que habitava em sua casa,conf. vs.34),ele ainda ofereceria algo em holocausto.Porque oferendo ele só a oferta em holocausto,seria no mínimo uma simples oferta.
Que Deus continue nos abençoando!
Acredito que muitos teólogos se valem da teologia para, de certa forma, contradizerem as Escrituras, provocar polêmicas e especulações, não precisamente para disputar lugar com Deus (embora exista quem realmente creia que o possa). Mas vejo com isso a intenção de se apresentar um conhecimento "superior e atualizado" que, supostamente, elevará a imagem dos tais diante dos homens e lhes causará muitos prestígios. É como se estivessem defendendo suas próprias verdades (e, na realidade, muitos estão mesmo).
Mas quando há humildade no folhear das páginas da Bíblia e sensibilidade para ouvir o Espírito Santo ensinando a mensagem contida nas palavras e nas entrelinhas (e não tirando conclusões pessoais ou teológicas), tudo se torna tão mais fácil de se compreender e tão mais bem fundamentado...
Nada contra a teologia, mas tudo contra o seu mau uso.
Shalom.
Em sua analise, jeftá ficou com a responsabilidade da morte da própria filha. Então, porque Deus, em sua misericórdia, e sabendo que jeftá transgredia seu mandamento de não sacrificar humanos consentiu que jeftá consumasse o sacrifício? Tudo corroborado com a vitoria de jeftá, dada por Deus, sobre os amonitas. Por que Deus não o impediu como fez com Abraão e Isaque?
Paz!
Em alguns locais encontrei que ela se chamava Adah, porem a citação ao nome de Adah só aparece oficialmente no velho Testamento em Genesis.
Estou a procura de literatura e embasamento a respeito do nome da filha de Jefté.
Obrigado,
Evandro Lecey
Porto Alegre - RS
estou escrevendo um trabalho a respeito da filha de Jefthé, em algumas pesquisas na internet, vi que ela aparece com o nome de Adah porem a referencia com a biblia (Velho Testamento) converge para Juizes e neste caso não eh revelado o nome dela; Adah é citado e aparece em Genesis somente.
Você poderia me ajudar com algum embasamento?
Att
Evandro LEcey
Deus não aceita sacrifícios humanos, embora existam os sacrifícios de tolos. Jefté não era sacertode, não podia oferecer sacrifícios e qualquer sacerdote com o mínimo de bom senso não faria tamanha abominação em Israel. Deus não conhece os corações? Não havia conselheiros em israel? Penso também que não entraria para lista dos heróis da fé um homem cujo principal feito fora o homicídio de sua própria filha num ato abominável e não de fé.
também escrevi, em tempos, um artigo sobre este assunto:
http://quem-escreveu-torto.blogspot.pt/2012/01/jefte-sacrifica-filha.html
Saudações
Paulo Ramos