Nas áureas décadas de 1980 e 1990, os pregadores mais requisitados e famosos — por serem verdadeiramente usados pelo Senhor —, nas Assembleias de Deus, eram identificados por títulos ministeriais bíblicos. De alguns anos para cá, surgiram títulos novos, como “conferencista internacional” e “itinerante”. Considero o primeiro um tanto pretensioso. Quanto ao segundo... Ah, o segundo é, no mínino, despropositado.
Pessoas que me encontram nos aeroportos ou nas igrejas onde ministro a Palavra de Deus me perguntam se sou um “itinerante”, pelo fato de eu participar de eventos em vários lugares, especialmente escolas bíblicas. E a minha resposta a elas, a priori, parece vaga: “Não sou ‘itinerante’. Mas tenho um ministério que envolve itinerância”.
Não me considero um “itinerante” porque a itinerância, em si, não é um ministério ou uma profissão, e sim uma característica destes. Houaiss define assim o termo “itinerante”: “diz-se de atividade que se exerce com deslocamentos sucessivos de lugar em lugar”.
O piloto de avião, o comissário de bordo e motorista de ônibus, por exemplo, não são chamados de “itinerantes” pelo fato de viajarem para várias partes do Brasil e/ou do mundo. Eles têm um trabalho que envolve itinerância. Da mesma forma, o apóstolo Paulo não era um “itinerante”, a despeito de suas viagens missionárias. Ele era pregador, apóstolo e doutor dos gentios (1 Tm 2.7). Seu ministério, multifacetado, envolvia itinerância.
Considero impróprio o uso do termo “itinerante” para designar o ministério da pregação da Palavra de Deus. Mas muito pior do que um problema de ordem semântica são os procedimentos adotados pelos que se dizem “itinerantes”. No meio assembleiano, especialmente, o aludido termo tem designado um tipo de obreiro que demonstra não ter sido chamado por Deus.
Os “itinerantes”, geralmente, gostam de aparecer. Apreciam roupa que reluz, sapatos que brilham de longe, anéis que ocupam quase metade do dedo, etc. Ter o título de diácono, presbítero, evangelista ou pastor, para eles, é desonroso ou “pouco impactante”. Preferem ser conhecidos como “conferencistas internacionais”. Supervalorizam o título, ignorando que não é o título que faz a pessoa; é a pessoa que faz o título. Duas passagens que eles deveriam examinar são 1 Samuel 16.6-13 e 2 Reis 4.31.
Os “itinerantes” querem ser pregadores a todo custo; são “oferecidos”, mas não possuem mensagem conveniente, à semelhança do rapaz que se apressou em dar a notícia da morte de Absalão a Davi (2 Sm 18.19-22). Em vez de apresentarem mensagens cristocêntricas, discorrem sobre conceitos antropocêntricos da autoajuda. Tais pregadores deveriam atentar para o exemplo de Jeremias: “eu não me apressei em ser o pastor após ti” (17.16).
Os “itinerantes” entram no ministério, mas o ministério não entra em seu coração. Eles foram feitos pregadores pelos homens, e não pelo Senhor (2 Tm 4.3-5; 1 Rs 12.31; 13.33; 2 Rs 17.32,33). Eles confiam apenas em sua capacidade, como o comandante Joabe, que tinha muitos talentos, mas era insensível, desumano, cruel, não inspirava respeito, não reconhecia os seus erros, não respeitava os laços familiares e não foi fiel até o fim (2 Sm 10.9; 1 Cr 19.10; 1 Rs 1.5-8; 2.5,28).
Os “itinerantes” amam o dinheiro (1 Tm 3.3; 6.10; Ef 5.5). E por ele estão dispostos a fazer tudo (Nm 22.10-22; 2 Pe 2.15,16; Is 56.11). Esquecem-se de que o compromisso primaz do pregador não é com as suas próprias necessidades ou com as preferências do povo, e sim com o Deus da Palavra e com a Palavra de Deus (Ez 2; At 7).
Os “itinerantes” se envolvem com a obra de Deus para ter comodidade e riqueza (Ez 34.2-4; Jz 17.7-13). E, por isso, mercadejam a Palavra de Deus (2 Co 2.17). Não se contentam com uma boa oferta da igreja do Senhor. Exigem cachês exorbitantes ou empregam técnicas reprováveis para “arrancar” tudo o que for possível dos incautos, como dinheiro, relógios, alianças, cheques, etc.
Os “itinerantes” gostam de receber glória dos homens (2 Co 10.12-18; At 12.21-23). Mas Deus não dá a sua glória a outrem (Is 42.8). Eles deveriam atentar para Provérbios 27.2 e 25.27, a fim de aprenderem que o Senhor usa — verdadeiramente — os humildes (1 Co 1.26-29; Tg 4.6).
Com temor e tremor,
Ciro Sanches Zibordi
Comentários
Abraços.
Pr. José Ivan Barbosa
Paz!
Marcos.
Não quero ser hipócrita nós sabemos que tem homens de Deus , pastores que estão fazendo a obra do Senhor em tempo integral , os chamados intinerantes , eles também tem conta para pagar , família para sustentar , eu não sou contra a igreja que convida dar uma oferta de amor , autorizar as vendas de seus materiais (livros , dvds ,cd etc) o problema é quando vc. convida o intinerante e ele "acaba " com a igreja.
Aconteceu na minha prória igreja , nosso pr.presidente
convidou um pr.desses chamado intinerante , e o intinerante foi até acredite se quizer quase 00:00hs , ele pediu desde anel,relógio de ouro etc.
Que os nossos líderes tomem cuidado que convida .
Abraço pr. ciro
parabéns pelo elucidativo artigo.
Deveras, o que vemos em muitos eventos em nossas igrejas nos deixa indignados. Existem muitos animadores de auditório manipulando os crentes incautos e enriquecendo às custas dos ingênuos.
Alguns tem a cara de pal de gravar DVd de mensagens (mensagens?)e colocam na capa do mesmo: Conferencista internacional, D.D (Doutor em Divindade), sem nunca ter cursado um curso regular de teologia presencial.
Mas também fazer o que? O povo gosta disso né! E os pastores os convidam para 'abrilhantar" suas festas!
Pb. Edinei, Th.B "conferencista municipal" kkkkkkkkkkk
O nosso povo é tão ingênuo que se o "pregador" (pregador?)pedir a roupa do corpo é capaz de os irmãos irem pra casa nús.
Pb. Edinei, Th.B
Parabéns pelo texto. Como sempre extremamente elucidados.
Abraços,
Renato vargens
Somente com o intuito de corroborar seu texto, gostaria de contar uma experiência recente, de duas semanas atrás.
Houve em minha igreja um congresso de "Avivamento", e vieram grandes nomes da itinerância brasileira.
No primeiro dia da festa, um outro obreiro e eu ajudávamos o tesoureiro na contabilidade da oferta quando um representante do "Ministério" do pregador, com camiseta com os dizeres "Fulano de tal ministries" dirigiu-se à sala em que estávamos para cobrar, pasme, adiantado o pagamento do "cachê", dando a entender que se não fosse paga a quantia exigida, o aludido itinerante não pregaria naquela noite.
Há alguma semelhança entre essa corja de estelionatários e os verdadeiros pregadores do Evangelho do princípio da Igreja?
Desculpe a indignação!
Marcelo Lima
Sua pergunta é oportuna. E, como ela exige uma resposta abrangente, sugiro que o irmão leia o seguinte texto, de minha modesta autoria.
http://cirozibordi.blogspot.com/2011/04/aos-crentes-que-nao-gostam-de.html
O link contém um artigo que parece não estar relacionado com a sua pergunta, mas ele explica a diferença entre o título que nos dão, aqui na terra, e o ministério que vem do Senhor.
Em Cristo,
CSZ
Grato pela sua sugestão. Vou conferir o seu artigo.
Um abraço.
CSZ
A paz do Senhor.
Se passar por cima de uma cidade ou país, de avião, pode ser computado como local visitado, já estive em lugares que nem imagino! Risos...
Falando sério, agora, estive na Europa, há poucos dias, mas não pude fazer-lhe uma visita. Fui informado pelo querido pastor Francisco que o trabalho na Alemanha está crescendo bastante, em tudo, para a glória do Senhor.
Que Deus continue abençoando o irmão, o pastor Márcio, suas famílias e todos servos do Senhor em território alemão.
Em Cristo,
CSZ
Agradeço-lhe pelas palavras de incentivo e peço-lhe que interceda por nós.
Um abraço.
CSZ
Suas palavras muito me animam. Agradeço-lhe por tudo, desejando em breve abraçá-lo em terras cearenses, se Deus quiser.
Um abraço.
CSZ
Isso porque, se existem muitos obreiros da igualha da que foi mencionada no "post",e que garbosamente se intitulam "pregadores internacionais", penso que é motivo de contentamento para os verdadeiros servos de Deus quando obreiros do seu quilate tem a oportunidade de fazer a obra de Deus em terras estrangeiras.
É lamentável que muitos líderes evangélicos não observam a quem estão cedendo os púpitos de suas igrejas, oportunizando aos lobos itinerantes descarregarem suas heresias e transtornarem o povo.
Que Deus continue tocando no coração das lideranças evangélicas nacionais e internacionais para chamarem obreiros do seu nível, Pr. Ciro, a fim de anunciarem as verdades eternas ao povo.
A igreja clube vive sempre a procura de algo que satisfaça os desejos de seus membros sócios. Eventos e mais eventos são promovidos, a fim de satisfazer os seus membros cada vez mais sedentos, insatisfeitos e vazios. Cantores e pregadores interesseiros, mais preocupados em manter a qualquer custo seus ministérios corruptos e puramente materialistas, são contratados por líderes sem visão espiritual, para abrilhantar festas, confraternizações e até shows evangélicos, com o objetivo de mostrar aos membros sócios, que a igreja está viva, ativa e dinâmica.
A glorificação do homem, o comércio desenfreado do evangelho, a exploração da fé com fins lucrativos e outras situações, tem contribuído, para que muita denominação dita evangélica sejam vistas mais como um clube, do que como parte integrante do Corpo de Cristo.Mas acredito que muitos já estão percebendo isso. os enganadores serão desmascarados em nome de Jesus!!!
Graça e Paz
Fico feliz em sempre estar lendo seus artigos, pois são sempre pertinentes a está época que vivemos.
Sobre estes titulos sempre me entristecem, pois sou obreiro e neto de obreiro.
Me lembro quando meu avô que era Presbítero chegava em alguma casa de Irmãos havia respeito e temor, mas agora devido a esses novos "cargos" e funções, os ministros constituidos da Igreja são relegados ao descredito.
Que Deus nos ajude e cuide de Sua Igreja.
Fico feliz e esperançoso que nem todos dobraram seus joelhos a este perigoso desvio (a direita) que tem trazido muitos maleficios à igreja pentecostal em nossa pátria tupiniquim.
Que a a graça e paz do Senhor continue na sua vida !
Pb. Aurelio Lisboa, Caiçara do Rio do Vento/RN
Que Deus o abençoe sempre.Que os "itinerantes" leiam esse texto.
Paz de Cristo.
Xavier Campos
Saudades do senhor! Que bom que voltou, e em grande estilo (risos).
Concordo plenamente com essa abordagem. Você chega pra um sujeito desses e pergunta "o que significa conferencista?" e ele não sabe sequer o que dizer. Como diria o jornalista Boris Casoy, isto é uma vergonha!
A exemplo de Paulo deveriam se gloriar no escândalo da Cruz, não nos aplausos, nos elogios ou na pompa dos títulos. Vivem de ostentação enquanto o amor verdadeiro pelas vidas nunca lhes aqueceu a alma! Verdadeiros mercenários, barulhentos, sem real compromisso com Deus, com sua Palavra e com a igreja!
Deus nos livre deles!
mas perguntar nao ofendi !
por que os "intinerantes "so sente de ir pregar onde tem $$$$$$$$$
duvido que eles venham aqui oh
onde estamos pregando!
http://www.youtube.com/watch?v=Pahj12IOtqQ
Na ultima quinta feira estive lecionando no curso de teologia sobre teologia do obreiro e então surgiu um debate justamente sobre este tema e a conclusão que chegamos é que todos os aluno não concordam com o "andar da carruagem".
No mês de agosto aconteceu uma confraternização de jovens e adolescentes e para tanto convidaram um Pr. do Rio, o camarada envergonhou a classe, brigou com a liderança por causa de hotel restaurante e até por causa de motorista, pois, queria que ficasse um carro com motorista a sua disposição, resultado saiu daqui super queimado e vai ser dificil receber um convite a aqui de Ctba e região.
Seu vídeo é ótimo. Já estou divulgando neste blog.
CSZ
compreendo que o seu ministerio e uma grande manifestação do Reino contra os enganos desta epoca,
entretanto temo pela tendencia a generalizar, a exemplo:nem todos se enquadram no diagnostico esposto no artigo, paz!
Abraço,
Pr.Jetúlio Luz, Th.B