Até o fim dos anos de 1990 não havia tantos “itinerantes” nas Assembleias de Deus. A pregação bíblica sem malabarismos ainda reinava. Pregadores que expunham a Palavra do Senhor, na dependência do Espírito Santo, ainda eram respeitados. Mas, com o falecimento de alguns homens de Deus e a queda espiritual de outros, começaram a surgir, em grande quantidade, ainda na aludida década (que compreende o período de 1991 a 2000), os “conferencistas internacionais”, animadores de auditório.
Hoje, o modelo que prevalece e encanta multidões é o da pregação interativa dos “itinerantes”, no melhor estilo diga-isso-e-aquilo-para-o-seu-irmão, com pouquíssimo conteúdo bíblico e malabarismo de sobra. Como consequência, muitos crentes já não suportam a exposição da viva e eficaz Palavra do Senhor (Hb 4.12). Isso, para eles, é simples demais e enfadonho; querem movimento, animação, berros prolongados ao microfone, gracejos, exibição teatral, etc.
A exposição verdadeiramente ungida das Escrituras perdeu o seu espaço. E quem não gosta de animação de auditório, como este expoente, é considerado pela maioria como retrógrado, ultrapassado, invejoso, sem unção, incapaz de “gerar a graça”, inimigo do “mover de Deus”, cético, etc.
Entretanto, a minha batalha — ainda que às vezes me sinta como alguém tirando água do oceano com uma pequena caneca — pela recuperação da exposição da Palavra de Deus continuará, segundo a graça do Senhor Jesus. Enquanto Deus me der força, perseverarei em protestar contra a animação de plateia e em asseverar que precisamos voltar às “veredas antigas” (Jr 6.16). Afinal, avivamento também significa reconquistar o que foi perdido (Lm 5.21).
Com base no que está escrito em 2 Timóteo 3.14, posso dizer que o ministério que o Senhor me outorgou foi grandemente influenciado por eminentes pregadores e ensinadores da Palavra, especialmente Valdir Nunes Bícego (segundo, na foto acima), cujo ministério envolvia itinerância.
Não havia, à época da virada do milênio, um pregador que reunisse tantas qualidades como Valdir Bícego. De alguma forma, Deus o usava com todos os dons ministeriais mencionados em Efésios 4.11. Assim como Paulo, que recebeu do Senhor um ministério multíplice (1 Tm 2.7), Bícego era, ao mesmo tempo, um mestre, um pastor, um evangelista, um profeta e um apóstolo do Senhor.
Influenciado diretamente por homens de Deus, como os verdadeiramente apóstolos Cícero Canuto de Lima e Eurico Bergstén (primeiro, na foto acima), Valdir Bícego reunia em si um pouco dos dois. Era seguro e zeloso como o primeiro e compromissado com a sã doutrina e com a pregação biblicocêntrica, como o segundo. Tive o privilégio de ser encaminhado ao ministério por ele, servindo ao Senhor sob seu pastorado na Assembleia de Deus da Lapa, em São Paulo, durante quinze anos.
Desde o dia em que vi o pastor Valdir Bícego expor a Palavra do Senhor, em um congresso de jovens, acendeu-se em mim uma chama para proclamar o Evangelho e defendê-lo (Mc 16.15; Fp 1.16). Na sua última pregação, em 27 de abril de 1998 (um dia antes de sua repentina morte), a qual também tive o privilégio de ouvir, ele asseverou: “Não fiquem em torno do pastor. Fiquem em torno de Jesus, da Palavra e do ministério, pois o pastor pode morrer a qualquer momento”.
No início do século XXI, a pregação da Palavra de Deus tornou-se escassa e obsoleta nos púlpitos assembleianos. Os animadores de auditório começaram a encantar os jovens pregadores, em razão de serem aqueles os protagonistas dos grandes congressos pretensamente pentecostais, transmitidos ao vivo pela Internet. Pregações triunfalistas e antropocêntricas, com temas exóticos, como “Grávidos de um avivamento” ou “Sonhe e ganhará o mundo”, passaram a ser vendidas, alugadas e pirateadas em toda a parte, tornando os tais “itinerantes” verdadeiras celebridades.
Coincidentemente ou não, depois das mortes de Bernhard Johnson (em 1995), Valdir Bícego (em 1998) e Eurico Bergstén (em 1999), e com as quedas espirituais de importantes expoentes da Palavra de Deus (algumas irreversíveis), cresceu, e muito, a animação de plateia. Não obstante, hoje, graças a Deus e ao legado de pregadores do passado, o quadro já começa a melhorar. Há um forte clamor pela pregação cristocêntrica, centrada na imutável Palavra do Senhor, e começam a surgir pregadores à moda antiga. Aleluia!
Diante do exposto, continuarei com o propósito de imitar os grandes pregadores e ensinadores que conheci no milênio passado (1 Co 11.1). E continuarei lutando para que, em nossos cultos e congressos, voltemos a valorizar a poderosa exposição da Palavra de Deus (Sl 119.130; Jo 5.24), sem exibicionismo, invencionices, ilusionismo, berros desnecessários, malabarismo, gracejos sem graça, triunfalismo e outros devaneios e aberrações que desviam o povo da verdade e do temor do Senhor.
Ciro Sanches Zibordi
Comentários
Que nós os pequeninos sigamos os passos dos grandes homens dos nossos dias para continuarmos expondo o evangelho de Cristo.
Tenho pensado até que o próprio nome "pregador", talvés tem deixado cair a muitos, que tal lembradores? Risos.
Porque afinal o que precisamos como pregadores,é lembrar as palavras das Escrituras.
Que haja mais Bícegos,Ciros, e etc para continuar a pregação do evangelho do Reino.
Que Deus abençoe pr. Ciro.
Xavier Campos Joaquim
Quando o Sr. comentou sobre a queda espiritual de alguns pregadores, o Sr. disse que algumas delas eram irreversíveis. Como assim?
Deu a entender que não tinha como eles se levantarem novamente para continuar como expoentes da Palavra de Deus.
Gostaria muito que o Sr. me explicasse isso melhor.
Atenciosamente,
Gilmar
Na verdade creio que alguns irmãos Deus esta levantando, com intrepidez, para expor o verdadeiro Evangelho de Cristo, a pregação Cristocêntrica e uma correta exposição das Escrituras.
Eu ajudo na minha Igreja, Assembleia de Deus, fico na parte do projetor, bem pertinho do púlpito, e só Deus sabe o quanto o meu coração ja chorou naquele lugar por ouvir a Palavra de Deus, sendo levada tão superficialmente, e sendo pregado um "evangelho" sem poder, e pregador tendo que persuadir o povo no emocional para que aja um suposto "mover".
Mas, o incrivel, é que no fim dos cultos, ninguem sai conversando sobre a Palavra que foi pregada, nem sobre como impaquitou em sua vida, mas sim em todos os outros tipos de assunto que o senhor possa imaginar, é triste Pastor.
Se o senhor quiser trocar algum email ficaria feliz Pastor, o meu é talles_talao@hotmail.com
Paz
Deus abençoe!
Mais uma vez assino em baixo o que o sr. disse.
Abraços..........
Digo: Não se sinta sozinho tirando água do oceano com uma caneca. Pois se você olhar para a direita e a esquerda vai ver outros pregadores cada um com a sua caneca tirando água deste imenso oceano.
Pois este que escreve também na sua humildade prega o evangelho verdadeiro, sem as falsificações de hoje e apoia o seu ministério e de tantos outros que expõem a verdade. Por onde prego, ensino, digo: "Isto aprendi com o Pr. Ciro". Posso dizer então que o sr. é meu pastor também e sou grato a Deus pela sua existência e por este blog maravilho. O sr. e sua família está nas minha orações. Pois sei que o trabalho é árduo, mas não desanime nunca, pois o Senhor Jesus é contigo por onde quer que andares e concerteza nos dará vitória sobre todas estas coisas.
Também fico triste ao ouvir e ver tantas coisas que fazem a igreja perder a identidade o foco.
Mas Deus que é reto juiz não dorme e nem dormita.
Glória a Deus! Aleluia!
Apenas isto:
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Parabéns pela postagem. Como li certa vez em um post: "HOUVE UM TEMPO".
Que este tempo retorne e a Noiva do Mestre volte a ser fortalecida de fato pelo ÚNICO alimento que ela necessita: "A PALAVRA DE D'US".
CHEGA DE MIOJO!!!
Em Cristo, a Fonte Legítima de Vida,
Ir. Márcio Cruz
Peço sua permissão para divulgar o meu blog: wwwevnelsonfernandescom.blogspot.com
Que Deus o abençoe Pastor.
Compartilho de seu desabafo.
Como pregador itinerante nas congregações de minha cidade, sinto às vezes na pele o boicote de alguns “senhores feudais” de igrejas e ministérios.
Por vezes, encontramos mais aceitação em ministérios co-irmãos do que naquele em que nos congregamos.
Já tive dois obreiros muito chegados que foram empossados na liderança da mocidade evangélica de toda a Capital. Sabe quantas vezes me convidaram para dar um “amém” à juventude ? Nenhuma...
Mas é confortador quando, ao descer do púlpito após uma pregação, com os olhos ainda marejados e a voz claudicante, nos vem a sensação de dever cumprido e mensagem entregue.
Mais ainda é quando, ao final do culto, algumas das ovelhas mais humildes nos cumprimentam e afirmam que foram edificadas pela Palavra pregada. A resposta é sempre a mesma: “ore por nós”.
Esse parece ser o rumo de todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus, e pregar o evangelho sem malabarismos e modismos. Fazer o quê ? Para isso fomos chamados e comissionados, e não podemos embarcar para Társis.
Mas sejamos consolados com o pensamento de que “ainda existem 7mil que não se renderam a Baal”.
“Com valor, sem temor/
Por Cristo prontos a sofrer/
Bem alto erguei o seu pendão/
Firmes sempre até morrer” (HC Nº 46)
Poderiamos chamar esses pregadores de "Pregadores Autônomos", visto que eles não tem compromisso em pregar o verdadeiro evangelho e o que eles pregam excede as escrituras?
Eli Leite