ESMIRNA, A IGREJA CONFESSANTE E MÁRTIR (subsídios para as Lições Bíblicas da CPAD)


“ESMIRNA, A IGREJA CONFESSANTE E MÁRTIR”
Pr. Ciro Sanches Zibordi

Leitura bíblica: Apocalipse 2.8-11


I. A igreja de Esmirna


1. Diferentemente da igreja de Éfeso, a igreja de Esmirna não é mencionada em nenhuma outra parte do Novo Testamento. Mas há indícios de que ela também tenha sido estabelecida por Paulo e seus companheiros.

a) Em Atos 19.10, está escrito que, num espaço de dois anos, “todos os que habitavam na [província da] Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, tanto judeus como gregos”.
b) Nos tempos do Novo Testamento havia três Ásias: o continente; a região (Ásia Menor, atual Turquia); e a província.
c) Paulo apenas passou por Éfeso, capital da província da Ásia, em sua segunda viagem missionária (At 18.19-23).
d) Na sua terceira viagem, Paulo se estabeleceu na Ásia e a evangelizou (At 20.31), a ponto de o ourives Demétrio ter declarado: “bem vedes e ouvis que não só em Éfeso, mas até quase em toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são deuses os que se fazem com as mãos” (At 19.26).

2. A cidade de Esmirna, fundada por Alexandre Magno, era bonita, rica e rival de Éfeso. No ano 26 d.C. várias cidades da Ásia Menor competiram pelo privilégio de construir um templo ao imperador Tibério. Esmirna ganhou de Éfeso esse privilégio. Era uma cidade famosa por seu porto e pela mirra que produzia. Apesar de inferior a Éfeso e de não possuir os atrativos de Laodiceia, se ufanava de ser a mais importante da província. Hoje, chama-se Izmir e é a principal cidade da Turquia.


II. Análise da carta à igreja de Esmirna (Ap 2.8-11)


1. “E ao anjo da igreja que está em Esmirna escreve” (v.8).

a) Um dos pastores da igreja de Esmirna foi Policarpo (69-155), discípulo de João que se tornou um dos mais notáveis pais da igreja. Ele foi queimado sobre o monte Pagus, no ano 155 d.C., por não ter negado a fé em Cristo perante o carrasco romano. Seus algozes queriam que ele dissesse: Kaiser Kurios (“César é Senhor”), mas ele reafirmou que Jesus é Senhor (Iesous Kurios).
b) Por que a carta foi endereçada ao pastor da igreja?
● Deus prioriza o líder. Quem o despreza, despreza o Senhor (1 Sm 8.7).
● O pastor é o responsável perante o Senhor. Deus só não fala com o líder se ele estiver completamente desviado (1 Sm 3.11-14; 28.6).

2. “Isto diz o Primeiro e o Último, que foi morto e reviveu” (v.8) — o Senhor Jesus empregou criteriosamente os títulos com que designou a si mesmo, em harmonia com a situação reinante em cada igreja.

a) Éfeso — tinha muitas qualidades, mas faltou-lhe a principal: a manutenção do primeiro amor. Jesus se revelou a essa igreja como “aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete castiçais de ouro” (Ap 2.1).
b) Esmirna — uma igreja que foi provada e venceu; deveria ser fiel até a morte. Jesus se revelou a essa igreja como “o Primeiro e o Último, que foi morto e reviveu” (Ap 2.8).
c) Pérgamo — abraçara a doutrina de Balaão e dos nicolaítas; deveria se arrepender. Jesus se revelou a essa igreja como “aquele que tem a espada aguda de dois fios” (Ap 2.12).
d) Tiatira — suas últimas obras eram melhores que as primeiras, ao contrário de Éfeso. Jesus se revelou a essa igreja como “o Filho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo e os pés semelhantes ao latão reluzente” (Ap 2.18).
e) Sardo — seu pastor estava morto; poucos, ali, agradavam a Jesus. Ele se revelou a essa igreja como “o que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas” (Ap 3.1).
f) Filadélfia — uma igreja fiel, a melhor de todas, que deveria guardar o que tinha, a fim de não perder a sua coroa. Jesus se revelou a essa igreja como “o que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi, o que abre, e ninguém fecha, e fecha, e ninguém abre” (Ap 3.7).
g) Laodiceia — uma igreja infiel, cujo pastor, espiritualmente, era desgraçado, miserável, pobre, cego e nu. Jesus se revelou a essa igreja como “o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus” (Ap 3.14).

3. “Eu sei as tuas obras, e tribulação” (v.9):

a) Jesus sabe qual é a nossa motivação; por isso, no Tribunal de Cristo, seremos julgados segundo a qualidade das nossas obras (Ap 22.12; 2 Co 5.10; 1 Co 3.11-15).
b) A tribulação revela quem é fiel e quem é conveniente (Mt 13.21; 2 Co 1.3-6).

4. “Eu sei a tua pobreza (mas tu és rico)”:

a) Contrastes entre Esmirna e Laodiceia:
● Laodiceia era rica, financeiramente, mas pobre, espiritualmente (Ap 3.17,18). Esmirna era o inverso disso.
● Laodiceia é a cara do mundo. Esmirna é o rosto de Cristo, humilhado e ferido.
b) As razões da pobreza de Esmirna:
● Seu testemunho de Jesus (Mt 5.10-12).
● Crentes procediam, em geral, das classes pobres; muitos deles eram escravos.
● Crentes eram saqueados, e seus bens eram tomados pelos perseguidores (Hb 10.34).
● Crentes rejeitavam os métodos suspeitos, por sua fidelidade a Cristo. E, por isso, perdiam lucros fáceis, que iam para as mãos de pessoas inescrupulosas. Naquela grande cidade comercial, os cristãos podiam ter conseguido uma boa existência, mas aceitaram voluntariamente as desvantagens sociais (Hb 11.23-26).
c) Os que priorizam riquezas materiais tornam-se pobres, espiritualmente (Mt 6.19-21; 2 Co 6.10; Tg 2.5; Mt 19.24; Jo 12.25).

5. “Eu sei a blasfêmia dos que se dizem judeus e não o são, mas são a sinagoga de Satanás” (v.9).

a) Em quase todas as igrejas da Ásia havia os que diziam ser alguma coisa: Éfeso (Ap 2.2); Esmirna (v.9); Tiatira (v.20); Filadélfia (3.9); Laodiceia (v.17). Uma coisa é pensar, parecer e dizer que é isto ou aquilo; outra é ser, de fato (Gl 2.6; 6.3; Mt 7.21-23).
b) Os crentes de Esmirna eram blasfemados, isto é, sofriam acusações levianas dos falsos judeus, que estavam a serviço do Diabo.
c) Os cristãos daquele tempo eram blasfemados (1 Co 4.13) e chamados de:
● Canibais — por celebrarem a Ceia do Senhor (Jo 6.56; 1 Co 11.);
● Imorais — por celebrarem a festa do Agape (cf. 1 Co 11.17-21);
● Ateus — por não se dobrarem ante as imagens de escultura (At 19.26);
● Desleais ao imperador — por chamarem Jesus de único e suficiente Senhor e Salvador (Iesous Kurios). A adoração ao imperador era compulsória.
● Desagregadores da família — por levarem pessoas a mudarem de religião (cf. Mt 10.34-36).

6. Mensagem de encorajamento (v.10):

a) “Nada temas das coisas que hás de padecer” — o Senhor nos livra de todos os temores (Sl 34.4; 1 Jo 4.18; 2 Tm 1.7).
b) “Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados [postos à prova]” — Deus prova; a tentação está contida na provação (Tg 1.12-14; Dt 13.1-4);
c) “e tereis uma tribulação de dez dias” — o Senhor não deixa exceder a medida; nossa tribulação é passageira e suportável (2 Co 4.17,18; 1 Co 10.13; 1 Pe 1.6,7).
d) “Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida”:
● As igrejas da Ásia que estavam agradando a Jesus foram estimuladas a conservarem a sua posição: Esmirna (2.10); Tiatira (v.25); Filadélfia (3.11). As outras deveriam se arrepender: Éfeso (2.5); Pérgamo (v.16); Sardo (3.3); Laodiceia (v.19).
● Jesus, nosso paradigma, foi obediente até a morte (Fp 2.5-11; Hb 5.8,9).
● A coroa será entregue aos vencedores logo após o Arrebatamento (2 Tm 4.7,8; 1 Pe 5.4; Tg 1.12; Ap 2.10).

7. “Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas” (v.11) — palavras transmitidas a todas as igrejas:

a) Mensagem de encorajamento: “Eu sei as tuas obras” ou “Eu conheço as tuas obras” (Ap 2.2,9,13,19; 3.1,8,15).
b) Advertência: “Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2.7,11,17,29; 3.6,13,22).
c) Promessa: “Ao que vencer”, “O que vencer” ou “A quem vencer” (Ap 2.7,11,17,26; 3.5,12,21).

8. “O que vencer não receberá o dano da segunda morte” (v.11).

a) Morte, na Bíblia, sempre denota separação.
b) Há dois tipos de morte:
● Morte física — é a separação entre o “homem interior” e “homem exterior” (Tg 2.26; Gn 35.18; At 20.10; 1 Rs 17.22; Jó 27.8; Lc 8.55; At 7.59).
● Morte espiritual:
1) Morte para o pecado (regeneração) — é a separação do pecado, ilustrada pelo batismo em águas (Rm 6.11).
2) Morte em pecados — é a separação de Deus por causa do pecado (Is 59.1,2; Ef 2.1; Lc 15.24).
3) Segunda morte — é a separação eterna de Deus por causa da permanência no pecado (Ap 20.6,14; 21.8).
c) Por que segunda morte? Porque a morte física é a primeira. Nesse caso, quem nasce apenas uma vez, morrerá duas vezes; e quem nasce duas vezes morrerá apenas uma vez (Jo 3.1-7).

Ciro Sanches Zibordi

Comentários

Anônimo disse…
Saudações em Cristo!,parabéns por esse belo texto. Prezado Pr. Ciro gostaria de sua ajuda em uma questão, quando o povo de Israel peregrinava no deserto as roupas cresciam no corpo das crianças?, ou não?.
Procurei em Êxodo e Números e não encontrei tal afirmação.
Qual sua opinião sobre isso?.

Abraços no amor de Cristo - Pb. João Eduardo Silva - AD Min. Belém - SP.
Unknown disse…
Paz Pr. Ciro, que belo artigo, com certeza vai em muito me ajudar na minha aula de domingo, vou preparar uma linda apresentação de slide e lecionar com muita alegria.
Anônimo disse…
Saudações em Cristo!, a propósito quando será lançado "Erros escatológicos que os pregadores devem evitar", estamos aguardando.

Abraços - Pb. João Eduardo Silva - AD Min. Belém - SP.
Unknown disse…
Paz grande homem de Deus!!! Mais uma de suas ótimas postagens, o que dizer? Sem palavras... quando eu crescer serei como vc.. rs .Abraços
Mara de Oliveira disse…
Parabéns pelo post... mais uma vez com fundamento bíblico e edificante para todos nós.. Abraços
Obrigado, amigo. Não nos conhecemos (ainda), mas esses subsídios me ajudarão muito nas minhas aulas bíblicas que dou na praça em minha cidade. Continuarei visitando seu blog. Muito bom. Abraço
Ailton Silva disse…
durante a preparação da aula, me deparei com uma duvida, justamente o texto que transcrevo abaixo. foi muito racional e didatica a explicação

"3) Segunda morte — é a separação eterna de Deus por causa da permanência no pecado (Ap 20.6,14; 21.8)".
"c) Por que segunda morte? Porque a morte física é a primeira. Nesse caso, quem nasce apenas uma vez, morrerá duas vezes; e quem nasce duas vezes morrerá apenas uma vez (Jo 3.1-7)".
to disse…
Caro pastor Ciro, a paz do Senhor!

Ótima aula! Deus continue o abençoando!

Em Cristo,

JP
Tadeu de Araújo disse…
Pastor Ciro, graça e paz!
Muito embora tenhamos sentido falta daqueles artigos diversos, no entanto, o parabenizamos pelas postagens a respeito das Sete Igrejas do Apocalipse.
Em verdade, por mais que tenhamos lido sobre o ponto de vista de especialistas em Escatologia, tais como: Stanley Horton, Severino Pedro,J.Pentecost, Millard Erickson e tantos outros, sempre estaremos aprendendo com outréns, tendo em vista o aprendizado ser constante.Aliás, principalmente, quando se trata de matéria onde o consenso está muito longe de haver, por causa das "tensões teológicas."
Que o Eterno continue o abençoando ainda mais em seu ministério.
Em Cristo,
Tadeu de Araújo
Anônimo disse…
Prezado Pr. Ciro, paz do Senhor:

Obrigadopor compartilhar essa mensagem, ouvi e li, muito boa.

Deus o abençoe ricamente.