Estamos em 2011, primeiro ano da segunda década do terceiro milênio. A situação da igreja evangélica brasileira tem sido considerada a melhor da História. Raramente somos vistos como fanáticos e loucos, como antigamente. É claro que há exceções, pois acabei de ler no Diário de Pernambuco de hoje a opinião de um leitor que chama os evangélicos de “Exércitos de alienados e fanáticos” (página B5). Na verdade, o grande crescimento numérico da igreja evangélica causa inveja aos líderes e membros das religiões instaladas no país.
Evangélicos entusiásticos proclamam: “Em breve, o Brasil será predominantemente evangélico”. Mas eu prefiro ser mais realista do que triunfalista. Afinal, poucos líderes, em meio à euforia, percebem o número crescente de evangélicos que constam das estatísticas, mas nunca viveram um cristianismo genuinamente bíblico. Ser cristão, hoje, é ter privilégios e direitos; é ser senhor, e não servo; é encarar a obediência como uma virtude descartável.
Em 1994 (faz tempo!), fiquei preocupado com a seguinte notícia, publicada na Veja: “Está surgindo no país uma versão moderna, mais liberal e classe média do crente tradicional [...]; esse novo evangélico é da pesada [...]”. Infelizmente, o modelo revolucionário deste novo milênio (que imita padrões mundanos) incorporou-se de tal modo a tantas igrejas tradicionais, que consideramos extraterrestres os pastores e pregadores que ainda se preocupam com essas questões “secundárias”.
Temos valorizado extremamente a contextualização do Evangelho. Agimos como se fosse imperioso aculturar a nossa mensagem. Tudo o que é cultural precisa estar dentro dos templos. “O mundo mudou”, dizemos. “Devemos adaptar a mensagem do Evangelho à presente realidade. Temos de ser parecidos com as pessoas do mundo, se quisermos alcançá-las para Cristo”. Esse argumento é baseado na interpretação forçada de 1 Coríntios 9.22, um vez que, para evoluir em algumas áreas, não precisamos gerar “aberturas” doutrinárias (Mt 7.13,14). Afinal, é o Evangelho que muda culturas, ou estas que mudam aquele?
Não me considero velho. Mas observo que estamos priorizando o jovem, em detrimento de outros públicos. Na década de 1960, Pete Townshend disse: “Espero morrer antes de ficar velho”. Lamentavelmente, esse sentimento prevalece no meio evangélico. Sabemos que é necessário atrair os jovens e adolescentes para o caminho do Senhor. Mas, e os velhos? E as crianças? Todas as pessoas são almas preciosas para Deus. O Evangelho deve atingir a todos, e não somente a juventude.
Quanto mais nos igualarmos aos incrédulos, tanto mais será difícil os evangelizarmos. Não havendo identidade, nos tornamos imperceptíveis (Mt 5.13-16; Fp 2.5), passando de influentes a influenciados. Comunicar o Evangelho da forma como as pessoas desejam ouvi-lo não resultará em nada. Mas transmiti-lo da maneira como elas precisam ouvi-lo as levará à compunção (At 2.37,38).
Seguir a Jesus não é apenas deter o título de cristão (Lc 9.23). Quando o Senhor chamou seus discípulos, disse a cada um: “Segue-me” (Mt 8.22; Lc 5.27; 9.59; Jo 1.43), pois Ele não queria ter fãs. Mesmo assim, muitos o seguiam por admiração ou interesse. Sabiam que Ele podia transformar água em vinho (Jo 2.1-12), fazer paralíticos andar (Jo 5.1-15) e multiplicar pães (Jo 6.1-15). Mas, depois de ouvirem o seu “duro discurso”, descobriram o que significava segui-lo e o abandonaram (Jo 6.22-71). E nós, temos andado como Jesus andou (1 Jo 2.6), ou somos apenas seus fãs?
Também me preocupo com a linguagem que temos adotado. Fazemos pouco caso da Bíblia, que nos ensina a ter uma “Linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós” (Tt 2.8). Em Efésios 4.29, há também uma importante advertência: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe [imoral, obscena, vil], mas só a que for boa para promover a edificação”. Mas, às vezes, pronunciamos impropérios até em cima do púlpito!
A frase “É proibido proibir”, empregada em 1968 por jovens hippies, que lutavam por liberação sexual e uso de drogas, vem sendo repetida em nossas igrejas! É verdade que Paulo reprovou proibições inúteis, legalistas, provenientes da mente humana (Cl 2.20-22), mas não podemos negar que o Novo Testamento está repleto de sérias proibições (Mt 6-7; Rm 13.9; 1 Co 6.10; Tg 5.12; Gl 5.17-21), para as quais devemos atentar.
Gostamos de música pesada e shows. A música secular, erotizante, entrou com facilidade em nossos templos, e vemos isso como um grande progresso. Algumas canções ditas cristãs sequer mencionam o nome de Jesus, e outras, não bastasse isso, possuem letras do tipo “quero sentir você me tocar”, reforçadas por melodias voluptuosas. Com a ascensão da chamada música gospel, o exibicionismo entrou em cena. Nossos púlpitos viraram palcos, e os cantores passaram a ser vistos como astros.
Mas não estou desanimado. Ainda creio que podemos nos unir em torno do Evangelho da cruz, em prol de uma igreja cheia do Espírito, avivada, perseverante na sã doutrina e mantenedora dos princípios verdadeiramente cristãos. Ou será que já nos conformamos com este mundo?
Ciro Sanches Zibordi
Comentários
willymenezes.blogspot.com
Precisamos ressuscitar em nossas igrejas os antigos padrões de reverencia e santidade. Em nome de uma pretensa modernidade estamos aceitando padrões adversos à santidade. Não poucos aplaudem quando nos estamos tornando parecidos com o mundo, mas o verdadeiro servo deve cada dia se parecer com o seu Senhor.
Abraços!
Pr. João Q. Cavalheiro
Precisamos ressuscitar em nossas igrejas os antigos padrões de reverencia e santidade. Em nome de uma pretensa modernidade estamos aceitando padrões adversos à santidade. Não poucos aplaudem quando nos estamos tornando parecidos com o mundo, mas o verdadeiro servo deve cada dia se parecer com o seu Senhor.
Abraços!
Pr. João Q. Cavalheiro
Lendo atenciosamente seu texto eu pude vislumbrar seu sentimento e o mesmo corresponde ao meu. Como filho e neto de crentes em Jesus, eu fui criado " na doutrina e admoestação do Senhor". Portanto, eu posso dizer que a realidade de nossos dias, concernente ao movimento evangélico (?), é muito triste. Mais importante que o templo cheio de crentes é os crentes cheios do Espírito Santo.
Só nos resta clamar ao Senhor.
Preciso lembrar que o crescimento(ou melhor, inchaço)se deve mais pela desqualificação das mensagens que se tornaram triunfalistas,antropocêntricas e com superficialidade.A musica foi só uma consequencia desse declinio,mas tb é preciso relembrar a necessidade de uma igreja culturalmente relevante...o que eu quero dizer uma igreja que comunica a cristo na linguagem da nossa cultura.Como john piper que incentiva raps como shai line a cantar doutrinas biblicas,acho um bom exemplo da parte deles....
Que Deus nos ajude a diferenciar a linha divisória entre o certo e o errado”. Amém!
Luciano Lourenço
Mas há muita coisa boa nas igrejas hoje em dia.
Sou assinante da Ensinador Cristão e fico fascinada como tem gente boa e comprometida com o evangelho de Cristo.
Antigamente havia o carrancismo que alguns tomavam por santidade.
Havia falta de bons mestres para crianças e jovens e o desprezo pela Bíblia com a predileção por profecias, visões e revelações.
A igreja está crescendo sem ensinar a prática fervorosa da vida cristã o que inclui fé e obras como ensinou Tiago.
Mas o pior problema são os agentes de Satanás que estão trabalhando para judaizar a igreja, enxertando falsas doutrinas de prosperidade e misticismos e querendo se colocarem como mediadores entre Cristo e o crente.
Para eles não interessa o ensino bíblico nem o crescimento do cristão.
Mas acredito que as igrejas mais antigas e bem fundamentadas podem acabar com isso se quiserem.
Hoje em dia nossos "levitas" não tem ouvido,nem sensibilidade musical, cantam mal e tocam pior ainda.
Quem já não teve vontade de arrancar as baquetas da mão de um baterista que usa a mesma batida de trem doido para qualquer hino que se canta?
E os guitarristas? Aprendem castigar a guitarra e ficam tocando assim a vida toda.
Nem as crianças conseguem aprender a cantar direito com essas músicas bagunçadas (posto que bonitinhas e legais) das Xuxas evangélicas.
Você põe as crianças para cantar e elas berram, dançam, balançam os braços. Pensam que se aparecer é a mesma coisa que cantar....
Como cantar faz bem para a alma e para o espírito a igreja de hoje tem muitos deprimidos e tristes porque não ensina a cantar e a tocar música.
Será que tem salvação para isso?
Gostei desse artigo e tb acho que a igreja evangélica tem deixado a desejar no quesito qualidade.
Concordo tb que a cultura não deva mudar o Evangelho. Porém, creio que o Evangelho precisa se enquadrar nas diferentes culturas, sem perder a essência. Muitos missionários têm levado um evangelho ocidentalizado com costumes que não são do Evangelho para outras culturas, colocando um julgo desnecessário nas pessoas, ou simplesmente ensinando coisas desnecessárias.
O senhor conhece o livro do Paul Hiebert "O Evangelho e a diversidade das culturas". Hiebert foi missionário na Índia e também é antropólogo. Faz-nos refletir justamente sobre essa questão: o que é essencial e o que é negociável no Evangelho. Creio que seja uma leitura muito boa para nossa reflexão.
Deus lhe abençoe!
O senhor conhece o livro do Paul Hiebert "O Evangelho e a diversidade das culturas". Hiebert foi missionário na Índia e também é antropólogo. Faz-nos refletir justamente sobre essa questão: o que é essencial e o que é negociável no Evangelho. Creio que seja uma leitura muito boa para nossa reflexão.
Deus lhe abençoe!
A Paz do Senhor Jesus esteja com você.
Acabo de ler o seu texto sobre o crescimento da igreja no Brasil. Coincidentemente postei hoje no meu blog sobre o mesmo assunto, o que mostra, graças a Deus, a nossa afinidade quanto a esse ponto. Não se duvida de que quantidade e qualidade são valores distintos. Urge que nos preocupemos mais com o segundo. O primeiro será apenas resultado.
Abraço fraternal.
Parabéns por esta postagem!Fui muito abençoada.
Quando adolescente observava a forma das pessoas tratar um Cristão lembro me com saudades do respeito que as pessoas tinha para com os mesmo tenho em mente os valores que os dito antigos cristãos tinha, pois eles atraiam para si o respeito pessoas não fumava,não falava palavras torpes e etc..perto deles quando o cristão chegava em um lugar todos se calavam para ouvi-lo por sinal de respeito, ainda adolescente observava estes valores,agora pergunto o que aconteceu será que os atuais cristãos não observou que algo esta errado!?
Saudade do tempo em que não precisava falar que era cristão sua forma de agir falar e se vestir já era o suficiente para ser identificado.
Onde estamos errando ?
Desvenda os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua lei Senhor!!!
Que cada um de nós possamos fazer nossa parte,para que nossa geração faça parte de uma geração eleita e aprovada pelo nosso Deus.
O Senhor derrame sobre ti toda sorte de benção.