Prezado internauta, a revista ECLÉSIA me pediu um artigo para a coluna Discipulado, o qual foi publicado na atual edição (128, de novembro/2008). Leia o texto, que é uma exegese de Mateus 28.19, e acesse também o site desse importante veículo de informação (clicando no ícone acima), a fim de conferir excelentes matérias e artigos.
Discipulado e batismo na teologia da Trindade
Discipulado é o processo de dar contínua e sistemática ajuda ao novo convertido, capacitando-o a crescer em direção à maturidade e à frutificação
A frase grega Porenthentes oun mathetéusate panta ta ethne significa, literalmente, “Ide, portanto, fazei discípulos de todos os povos”. O texto, registrado em Mateus 28.19, é uma demonstração clara de que o discipulado não é uma opção para o cristão. O Senhor Jesus nos mandou fazer seguidores. Não obstante, as pesquisas têm indicado que a Igreja brasileira evangeliza pouco, e discipula menos ainda. Não seria essa uma das razões para a proliferação dos evangelhos estranhos mencionados aqui mesmo, na matéria de capa da edição 125 da revista ECLÉSIA?
Discipulado é o processo de dar contínua e sistemática ajuda ao novo convertido, capacitando-o a crescer em direção à maturidade e à frutificação. Vemos algumas ilustrações que nos ajudam a compreender a relevância desse trabalho em textos como Jó 39.12-15; Provérbios 12.27; e I Coríntios 3.6. Se nós nos preocuparmos apenas com a evangelização e não discipularmos, seremos como a avestruz, que se alegra ao botar os ovos, mas se esquece de que eles podem ser pisados e destruídos. Seremos, ainda, como o preguiçoso que não assa a sua caça. E, finalmente, como alguém que planta sementes e não cuida delas. A chave para o crescimento qualitativo e quantitativo da igreja brasileira é uma só: o discipulado.
Mas o texto que abre este artigo também indica onde a semeadura e o cultivo da semente devem ocorrer. Considerando que o termo ethne, derivado de ethnos – que significa “povo” ou “gente” –, o Senhor Jesus espera que façamos discípulos de todos os povos, isto é, de todos os grupos étnicos. A Grande Comissão, por conseguinte, é etnocêntrica, e a Igreja deve estar preparada para evangelizar e discipular cada povo. O que é um grupo étnico? É um ajuntamento significativamente grande de pessoas conscientes de partilharem um vínculo comum. Pensemos no continente africano, com as suas dezenas de fronteiras nacionais e milhares de divisões tribais, separadas umas das outras por culturas, línguas, classes, normas de conduta, sistemas de valores, costumes etc. Como a Igreja contemporânea conseguirá evangelizar e fazer discípulos de todos os milhares de povos do mundo? É preciso que haja conscientização dessa missão, preparo e, sobretudo, poder dinâmico do Espírito Santo, tão bem expresso em Atos 1.8.
O versículo do evangelho de Mateus também mostra que a Igreja do Senhor deve batizar as pessoas discipuladas, a fim de que sejam, verdadeiramente, discípulas. A despeito da urgência da evangelização, a Grande Comissão abarca evangelização, discipulado e batismo em águas, o qual deve ser ministrado em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Mas esse tripartido mandamento vem sendo negligenciado por muitas igrejas locais, que apenas evangelizam – e algumas, nem isso fazem. Outras oferecem um sucinto e insuficiente curso de discipulado. E há aquelas que, além de não fazerem discípulos de Cristo, não seguem à risca o mandamento acerca do batismo em águas. Certas igrejas, infelizmente, têm feito milhares de seguidores, mas não de Cristo!
Alegando rompimento com a religiosidade, esses grupos aboliram, por conta própria, o batismo em águas, o qual foi acolhido como uma ordenança pela Igreja primitiva. Outros movimentos batizam, mas ignoram a fórmula em nome da Trindade, sob a alegação de que Pai, Filho e Espírito Santo são a mesma pessoa, uma vez que a expressão “em nome” está no singular. Essa interpretação mostra-se falaciosa, haja vista não considerar que a construção frasal indica claramente que o termo “nome” tem função distributiva, denotando, na verdade, que o batismo em águas deve ser ministrado no nome do único Deus Todo-poderoso, subsistente em três distintas personalidades.
Além do mandamento de fazer discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, vemos, de modo implícito, em Mateus 28.19, que não devemos negligenciar a doutrina da Trindade. Pensar que ela pode ser negada sem maiores conseqüências é um grave erro. Quem rejeita a Trindade é contra a Bíblia; opõe-se ao próprio Senhor Jesus; nega a personalidade do Espírito Santo e opõe-se à teologia, rejeitando o plano da salvação – afinal, na obra salvífica, o Pai enviou o Filho, que consumou a obra recebida, e o Espírito Santo é quem convence o pecador dessa gloriosa salvação. Sejamos, pois, fiéis ao tríplice mandamento de evangelizar, fazer discípulos e batizá-los em nome da Trindade, a fim de que o Reino de Cristo verdadeiramente se estabeleça no Brasil e no mundo.
Ciro Sanches Zibordi
Escritor, membro da Casa de Letras Emilio Conde e pastor da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Cordovil, no Rio
Comentários
´´...E há aquelas que, além de não fazerem discípulos de Cristo, não seguem à risca o mandamento acerca do batismo em águas. Certas igrejas, infelizmente, têm feito milhares de seguidores, mas não de Cristo!´´
Tenho ouvido cristãos dizerem que áquele conhecido grupo unicista que se diz ter a ´´voz da verdade´´ ganhou muitas pessoas para Jesus.Isto dizem para justificar o fato de cantarem o extenso repertório que o tal grupo acumulou ao longo dos anos.Porém lendo este artigo devo concluir que a maioria das letras que eles compuseram são verdadeiras, mas a fonte é falsa.Repito a fonte é falsa.
Fica a pergunta como pode um cristão ter sido evangelizado,dicipulado e batizado com a fórmula correta, sendo membro de uma igreja que defende a doutrina da Trindade, ser participante de tais músicas? Vem em minha mente a passagem de At. 16:17:Esta seguindo a Paulo e a nós, clamava dizendo: Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus altíssimo. Palavra verdadeira mas a fonte falsa.
Abraços fraternos.
Josiel
De fato observamos nesse versículo três núcleos que se encadeiam intimimamente e que praticamente indicam as fases de formação de um verdadeiro filho de Deus: Trindade, batismo, discípulo.
Para que alguém se torne discípulo é essencial que tenha passado pela experiência do novo nascimento a qual só é possível mediante o processo de regeneração, efetuado pelo Espírito Santo. Mas a regeneração deve ser precedida do arrependimento que só se realiza quando o homem reconhece que "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna". Vê-se que nesse processo todas as pessoas da Trindade são necessariamente envolvidas. Não há verdadeiro discípulo que não tenha tido esse contato espiritual com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
No batismo o crente declara publicamente que é nova criatura. A imersão nas águas simboliza o sepultamento do velho homem e o ressurgimento do novo, criado em justiça por Deus para as boas obras. A rejeição de prática do batismo só reforça a tese de que a conversão está sendo substituída pela "adesão". Neste caso só se evita a inutilidade do batismo para pessoas que não sabem o que é nascer de novo. Se alguém rejeita o batismo é porque, implicitamente, já não acredita no milagre do novo nascimento. O Didaquê um escrito do primeiro século D.C. nos mostra como a Igreja primitiva se preocupava com o discipulado antes do batismo. Já neste documento encontramos orientações para batismo em imersão e a utilização da fórmula trinitária durante o ato.
O Discipulado não termina no batismo. Há ainda um caminho a perfazer até que o cristão, assim como o filho da águia, possa sentir-se capaz de voar sozinho. É preciso ter um conhecimento mais aprofundado de doutrinas básicas da Bíblia Sagrada tais como a doutrina de Deus, da santificação, do pecado, etc.
Infelizmente muitos estão pousando de pára-quedas dentro das igrejas. São como soldados enviados à guerra sem nenhum treinamento. Chegam e já vão integrando departamentos, assumindo responsabilidades. Não se deve estranhar que muitos deles, após um estágio inicial de euforia e entusiasmo, abandonem depois a Igreja. É preciso evitar esse "choque térmico" espiritual. O crescimento é gradativo e a assunção de responsabilidades também.
Cristiano Santana
http://cristisantana.blogspot.com