Uma longa resposta a um novo (e não neo) pentecostal

O novo (e não neo) pentecostal Anderson Rodrigues, de Teresópolis-RJ, me fez algumas perguntas cujas respostas podem ser de interesse de todos os irmãos internautas.
Primeira pergunta: "Em 1 João 5.1,8, em particular no versículo 8, a água a qual serve como testemunho na terra é o arrependimento? Trata-se do batismo? Ou é a água que veio de seu sacrifício por nós? Estou lhe perguntando isso, pois, estudando sobre o batismo, esse texto me veio a cabeça... Mas eu não o compreendo bem. A água desse texto teria ligação com a remissão?”
Resposta: O texto de 1 João 5.8 refere-se à obra redentora do Senhor Jesus Cristo, à luz do contexto. Veja o que diz o versículo 6: “Este é aquele que veio por água e sangue, isto é Jesus Cristo”. Nesse caso, além do testemunho do Espírito Santo, na Terra, água e sangue testificam acerca do sacrifício vicário realizado pelo Senhor. Ou seja, água diz respeito ao seu batismo em águas, e sangue refere-se à sua crucificação. Lembremo-nos, ainda, de que no batismo de Jesus, houve testemunho do Pai (Mt 3.13-17). Daí o apóstolo João ter acrescentado: “Se recebemos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior; porque o testemunho de Deus é este, que de seu Filho testificou” (1 Jo 5.9).
Segunda pergunta: "Tratando-se do livre-arbítrio ou da livre agência... Enfim, Quando Deus exatamente olha para uma pessoa com o objetivo de realizar nela os seus planos? Por exemplo, as pessoas costumam dizer ‘Se não vem pelo amor, vem pela dor’. Mas essa frase (além de não ter apoio bíblico) me ensina que Deus estaria interferindo na opção da pessoa de o seguir ou não! Tendo isso em vista, eu tracei o seguinte raciocínio: Quando Deus olha para alguém? (No caso vou usar o Roberto como exemplo.)” Quando a Maria intercede por Roberto com o objetivo de que ele conheça a Palavra de Deus? Quando Roberto mesmo sem conhecer o evangelho, clama a Deus por alguma razão? Quando Roberto se intromete no caminho de um cristão (nesse caso, o olhar de Deus é diferente)? Ou seja, se Roberto não procurar a Deus por vontade própria; se ninguém interceder por ele; e se ele não tentar prejudicar um servo de Deus, tem como Deus interferir em sua vida para a sua salvação? Gostaria que se possível o senhor usasse base bíblica para me ajudar".
Resposta: O Senhor tem os seus meios de se revelar à humanidade, como vemos nas Escrituras. Mas algumas verdades contidas na Palavra de Deus podem ajudá-lo a obter as suas respostas. Primeiro, Deus é presciente (Is 46.10), mas não se vale desse atributo para salvar ou condenar alguém, posto que respeita o livre-arbítrio (Dt 30.19; Jo 3.16; Ap 22.17). Segundo, Ele deseja que todos os homens se salvem (1 Tm 2.4). Terceiro, o Senhor Jesus morreu por toda a humanidade (Hb 2.9), a despeito de muitos não serem salvos, em razão de optarem pelo caminho da perdição (Mt 7.13,14; Ap 20.12). Quarto, o meio pelo qual os seres humanos tomam conhecimento da salvação é a pregação do evangelho (Rm 10.9-17). Quinto, Deus provê meios para os homens ouvirem o evangelho (At 9.1-18; 11.13,14). Sexto, a intercessão é útil, pois Deus nos responde, dando-nos a direção certa (At 16.6-9).
Terceira pergunta: "Eu ouço muito na igreja ‘Deus quer abençoar o seu povo’, mas ao mesmo tempo eu me pergunto: Quem é o povo de Deus? Dentro da igreja, quem é o povo de Deus? Eu poderia usar dois versículos para tentar enquadrar o povo de Deus: João 6.40 e Hebreus 5.9. Afinal, temos que crer e ser obedientes, mas Deus abençoa o povo que já está na igreja, com o conhecimento da Palavra e não lhe é obediente? Ou pior, o povo que está na igreja e NÃO QUER TER CONHECIMENTO DE SUA PALAVRA? Ou seja, que povo é esse que Deus quer abençoar?”
Resposta: É claro que o povo de Deus não é formado por aqueles que se dizem irmãos (1 Co 5.11). Quem profere o nome de Cristo deve se apartar da iniqüidade (2 Tm 2.19). Por isso, a bênção de Deus, de fato, é para aqueles que obedecem a Deus, como lemos em 2 Crônicas 7.14: “e se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra”. Esse é, pois, o povo que Deus quer abençoar, o povo seu, zeloso de boas obras (Tt 2.14).
Quarta pergunta: "Fé x Vontade de Deus. É interessante como tantos dizem, inclusive Jesus, que basta ter fé! Quem não tem fé, não move, não faz, não realiza. Mas, e onde fica nisso tudo a vontade de Deus? Ora, a fé que eu conheço é acreditar em Jesus, lhe ser FIEL! Eu vejo exemplos como o de Naamã que mesmo sem fé ficou curado; vejo exemplos como de Marcos 9.24 e para piorar eu tenho orado muito a Deus para que ele abra os meus olhos espirituais sobre os sinais e maravilhas que serão ou já são operados no meio de nós... Vamos ao exemplo de fé que eu sempre uso para tentar entender: eu gostaria de ter um fusca ‘para fazer melhor a obra de Deus’; peço um fusca ano 66, cor vermelha, e eu uso de toda a fé e confiança que Deus vai me ajudar... e aí Deus me entrega um fusca ano 66 cor azul! E eu questiono sobre a cor e me dizem que foi a vontade de Deus. Ora, se foi a vontade de Deus, eu não precisava de ter fé! E se não for da vontade dEle, não adianta eu ter fé!”
Resposta: Caro irmão, a fé não é a principal virtude cristão, mas uma delas (1 Co 13.13; Gl 5.22). Ter fé, de verdade, não significa apenas orar e ter um pedido atendido exatamente do jeito que foi feito. Em Hebreus 11 se mencionam homens que pela fé receberam bênçãos e alcançaram vitórias, mas outros foram cerrados pelo meio, devorados por feras, perseguidos... e também venceram pela fé!
Infelizmente, hoje, prevalece a fé na fé, e não uma fé inabalável de que o Senhor está no controle de todas as coisas, e que a sua vontade é o melhor para as nossas vidas. Um crente que vive de fato por fé, jamais faria uma oração desse tipo: “Quero um fusca ano tal, da cor tal”. Não! Ele simplesmente diria: “Senhor, preciso de um carro e sei que o Senhor pode me dar um. Espero em ti”. Leia Jó 42.2 e Filipenses 4.13.
É claro que é impossível agradar a Deus sem fé (Hb 11.6). Contudo, isolada, essa virtude é morta. Ela precisa estar acompanhada de obras (Tg 2.17,24,26). Conquanto sejamos salvos pela graça de Deus, por meio da fé, e não pelas obras (Ef 2.8,9), o contexto dessa mesma passagem enfatiza que fomos “... criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (v.10).
A fé é apenas um dos elementos que compõem o fruto do Espírito — e não a sua essência —, o qual é formado de amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e temperança (Gl 5.22). É certo dizer que a fé, ao lado do arrependimento, são as primeiras virtudes da vida cristã, haja vista ambas serem imprescindíveis para o recebimento da salvação. Entretanto, uma vez salvos, devemos agregar outras virtudes à nossa fé (2 Pe 1.5-9).
Na conclusão de sua carta aos coríntios, Paulo afirma que deveriam permanecer a fé, a esperança e o amor. E enfatizou: “... o maior destes é o amor” (1 Co 13.13, ARA). Ele deixou claro que fé sem amor não tem valor algum para Deus: “... ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade [amor], nada seria” (v.2).
O crente que só pensa em receber bênçãos torna-se egocêntrico. Tudo o que faz visa exclusivamente ao recebimento de bênçãos. E a fé não é uma virtude direcionada apenas à consecução de dádivas. Em Hebreus 11, lemos sobre os heróis que, pela fé, fecharam as bocas dos leões e escaparam da espada (vv. 33,34). Glória a Deus! Mas também lemos, no mesmo capítulo, sobre os que, pela fé, foram maltratados, torturados, apedrejados, serrados e desamparados (vv. 25,35-38).
Embora a fé seja uma virtude pela qual recebamos bênçãos do Senhor, é por ela também que alcançamos vitórias em meio a provações, tentações, angústias e ameaças (1 Jo 5.4; At 4.29-31). Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, deixou claro, em Filipenses 4.10-13, que o crente de verdade mantém a sua fé em qualquer circunstância. Podemos, em Cristo, nos contentar com o que temos (1 Tm 6.8). Paulo não disse: “aprendi a conformar-me com o que tenho”, e sim “aprendi a contentar-me com o que tenho”. O nosso contentamento baseia-se na comunhão com Jesus, e não nos bens que possuímos. Nada é mais precioso que a salvação! Nossa alegria deve subsistir mesmo em meio às adversidades (Hc 3.17,18).
Podemos suportar, no Senhor, os momentos de abatimento ou humilhação. O crente que aprende isso nunca deixa de ser fiel nos períodos de angústia, mas permanece firme (Pv 24.10), alcançando vitórias em meio às tribulações e aflições (Jo 16.33; Rm 8.18). Podemos nos manter também submissos ao Senhor e em paz com os irmãos, mesmo tendo abundância e fartura. Não pense que isso é fácil. Podemos, ainda, enfrentar qualquer circunstância, inclusive a fome (Rm 8.35-39).

Ciro Sanches Zibordi

Comentários

Anônimo disse…
Meu amado pastor, que Deus sempre te abençoe!

Me iluminou muito, eu precisava a confirmação do que eu entendo, tive medo de estar sendo influenciado pela carne, principalmente sobre a primeira pergunta, era o que o Espírito Santo havia me ensinado...mas sempre vem o homem e bagunça tudo né! E como o assunto é por demais sério eu orei e te pedi ajuda.
Fica com Deus, continuo orando pelo senhor.
Observação: Gostei mais do “crente cincero
Anderson Rodrigues (Teresópolis – RJ)
Anônimo disse…
Se podessemos catalogar todas as dúvidas, concernentes a como interpetrar tais versiculos, que muitos falsos profetas distorcem, acretido que teremos que ser criteriosos conosco em 1º lugar, para não deixarmos que a nossa carnal compreensão, não nos cegue, pois a Palavra de Deus diz:
1-I Tessalonicenses 5:21
Examinai tudo. Retende o bem.
Anônimo disse…
Caro Pastor Ciro,
A ultima questão sobre a fé, em especial me chamou muito a atenção; pois vai de encontro com minhas duvidas a respeito da oração determinada; aquela que ensinam que basta pedir-mos determinando que acontecerá.
Más como o irmão mesmo respondeu, a fé que devemos manter é aquela em Jesus, e as demais coisas serão acrescentadas a nós, comforme nossa nescessidade e a vontade de Deus.
E aprender a nos alegrar seja qual for a circunstancia que nos rodeia.
Minha conclusão ao ler sua explicação para a ultima pergunta é a de que devo continuar orando da maneira como fui ensinada por meus avós e meus pais; joelhos no chão, me colocando no centro da vontade de Deus e entregando e Ele toda a minha ansiedade pois Ele tem cuidado de mim. Essa é a verdadeira regra da nossa fé.
Pastor, já estava desanimando, pois eu pensava não existir mais homens de Deus, que como o senhor ainda ensinam e vivem o genuino evangelio. Deus o abençoe muito, continue na sabedoria do Senhor.